“O teatro nunca vai morrer, mas precisa de políticas públicas”, afirma Maria Marighella sobre desafios da cena soteropolitana
Por Paulo Dourado
A atriz, ex-vereadora e presidente da Funarte, Maria Marighella (PT), avaliou, o atual cenário do teatro em Salvador e defendeu a importância de políticas públicas específicas para garantir a sobrevivência e renovação da linguagem cênica diante das transformações sociais, econômicas e culturais do país.
“Gosto da ideia de que o teatro nunca vai morrer. Assim como o circo tradicional, ele sempre terá lugar. A arte é isso. Mas, dito isso, cabe uma investigação e uma reformulação das políticas públicas. O fato de que uma linguagem artística continua viva não significa que ela não mereça atenção, reflexão e ação”, destacou ela, em entrevista ao Bahia Notícias.
Mesmo distante fisicamente da cena local, Marighella afirma acompanhar com atenção os movimentos do teatro soteropolitano. Para ela, os desafios enfrentados pelos artistas baianos estão diretamente ligados às mudanças nas formas de consumo cultural e às transformações urbanas, incluindo a segurança pública, gastos adicionais e outras problemáticas.
“As pessoas têm medo de sair de casa, o preço do ingresso muitas vezes entra na conta do transporte, da alimentação próxima ao teatro. Estamos falando de um novo conjunto de práticas e mudanças na relação com a cultura. Não se trata apenas de fazer teatro, mas de pensar como ele é produzido, financiado, ado”, explicou ela.
Segundo a gestora, é necessário que o poder público reconheça a necessidade de investir de forma contínua em expressões artísticas, mesmo com ameaças pelas dinâmicas de mercado.
“Assim como no carnaval, onde blocos afros seguem existindo porque há uma política que os protege, o teatro também precisa ser amparado por políticas contundentes e atualizadas", disse ela.
Em contraponto, Marighella também resgatou a memória afetiva e política de um dos espaços simbólicos da cena teatral baiana: o Teatro Maria Bethânia, no Rio Vermelho, em Salvador. O equipamento, importante na década de 1990, acabou sendo fechado por falta de políticas de incentivo e depois transformado em uma casa de bingo e, posteriormente, numa churrascaria. No local, atualmente funciona uma clínica de oncologia. "É sintomático que quando o teatro morre, quando a arte morre, a sociedade fica adoecida", rememora a atriz.
“Em 1994, nós, artistas, fomos para a porta do Maria Bethânia tentar impedir o fechamento. Mas sem uma lei de incentivo, sem apoio público, não conseguimos. Isso mostra o quanto é fundamental entender que espaços culturais, mesmo privados, devem ser tratados como de interesse público", contou ela.
Para ela, reconhecer as dificuldades que o setor artístico enfrenta não é sinal de fraqueza, mas de lucidez e compromisso. “Toda reivindicação que lance um olhar crítico e propositivo sobre o teatro é importante. É melhor ouvir e agir do que ignorar. O teatro não vai morrer, mas pode desaparecer de lugares importantes se não houver políticas públicas que garantam seu espaço.”