Lagoa Busca Vida: Entre a degradação e a esperança de revitalização
Localizada no litoral norte da Bahia, a Lagoa Busca Vida, considerada um dos ecossistemas mais preservados das baixadas litorâneas brasileiras, vem enfrentando há décadas um processo de degradação silenciosa, intensificado pela eutrofização — fenômeno ambiental que ocorre quando o acúmulo excessivo de nutrientes na água provoca a proliferação descontrolada de algas e plantas aquáticas, afetando o equilíbrio ecológico e a qualidade da água.
Estudos realizados desde 2019 pela Comissão Ambiental do Condomínio Busca Vida (CBV) apontam que o ecossistema, antes classificado como distrófico (com baixa produtividade de nutrientes e rica biodiversidade), ou a apresentar sinais crescentes de impacto, principalmente com o avanço de macrófitas aquáticas — plantas de grande porte que, embora naturais em muitos ambientes, podem se tornar invasoras quando proliferam além do controle, comprometendo o espelho d’água e o fluxo hidrológico.
A dificuldade em conter o avanço da degradação tem múltiplas causas: o tamanho da lagoa, suas características únicas no litoral baiano, limitações técnicas e o alto custo das intervenções. Diversas audiências públicas, pesquisas científicas e ações voluntárias marcaram a tentativa de buscar soluções. Contudo, foi após o incêndio ocorrido em fevereiro de 2025, que devastou a vegetação ao redor do CBV e atingiu áreas próximas às residências, que a urgência da recuperação se tornou inegável. O que restou do espelho d’água serviu como barreira natural ao fogo, destacando não apenas o valor ambiental da lagoa, mas também seu papel na prevenção de desastres climáticos, cada vez mais frequentes.
A partir daí, a mobilização ganhou força. Máquinas aram a remover toneladas de vegetação e sedimentos acumulados, nascentes como a Fonte dos Padres foram revitalizadas, e áreas como a frente da Praça das Tartarugas e da Gleba 70/71 tiveram a limpeza iniciada. Estima-se que cerca de mil toneladas de material foram retiradas até o momento. Em paralelo, vias foram interditadas temporariamente para dar espaço às obras, e os moradores estão sendo atualizados a cada etapa do projeto.
Além do esforço físico e técnico, a comunidade vem buscando apoio governamental e a aplicação de recursos oriundos de compensações ambientais para sustentar o trabalho. A expectativa é que, com o envolvimento coletivo e ações contínuas, a Lagoa Busca Vida possa não apenas recuperar seu equilíbrio ecológico, mas também servir como exemplo de resistência e restauração ambiental em tempos de crise climática.
O Condomínio Busca Vida fica localizado na Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes-Ipitanga, localizada na Bahia, possui uma área total de aproximadamente 66.257 hectares, conforme estabelecido pelo Decreto Estadual nº 22.363 de 2023, que ampliou os limites originais da unidade. A área protegida abrange partes dos municípios de Camaçari, Simões Filho, Lauro de Freitas, São Francisco do Conde, Candeias, São Sebastião do é, Salvador e Dias d'Ávila.
*Marcelo Dourado é síndico- do Condomínio Busca Vida
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