Arquitetando: O Velho Novo? Aposta no reuso dá nova cara à arquitetura e fortalece a sustentabilidade no setor
É tempo de voltar o olhar para a natureza, seja para se inspirar em suas curvas, seja para preservá-la. Ser sustentável hoje é sair à frente em um mercado que se cansou de fazer mal ao meio ambiente e a boa notícia é que estas práticas, voltadas à sustentabilidade, já atingem diversos setores, entre eles, o da arquitetura e decoração.
Não é à toa que a palavra de ordem agora é reutilizar e ainda ser chique fazendo isso! Mas não basta sair por aí reaproveitando tudo, sem critério algum. Para ter sucesso num projeto baseado nestes princípios é preciso ir além da criatividade e usar técnicas de Upcycling – termo que se refere a um processo de transformar um objeto ou material descartado em um novo produto de maior valor ou utilidade.
Isso vale para pisos e revestimentos, portas, esquadrias, janelas, vidros e espelhos e tudo mais que a imaginação permitir e o espaço couber. Contanto, obviamente, que todas as normas de segurança vigentes sejam respeitadas.
Resgatar móveis antigos, por exemplo, dá nova vida a artefatos que seriam descartados e contribui não somente para a redução de custos no projeto, mas também para a diminuição da geração de resíduos da indústria da construção e do setor de decoração. É como se fosse um belo combo recheado de vantagens estéticas, econômicas e ambientais.
É olhar com carinho para aquele piso de madeira antigo, que pode virar o revestimento de uma parede, após um simples tratamento. Ou lembrar das sobras dos canteiros de obra, que podem resultar em produtos funcionais, como bancos e lixeiras.
Bancos e cestos de lixos elegantes podem ser fabricados com sobra de madeiras que seriam descartadas. (Foto: Reprodução/Indústria Santa Luzia)
Segundo a pesquisadora e Designer de Interiores Bruna Villas-Bôas, o primeiro o é valorizar a etapa de garimpo para promover adaptações no projeto e, assim, aproveitar o que é possível de maneira inovadora. “Durante a etapa de garimpo e catalogação dos itens que serão reutilizados, sempre há elementos novos e interessantes para serem inseridos no projeto. Analisamos a viabilidade de aplicação dos materiais escolhidos, colocando na balança a distância a ser percorrida por estes materiais – pois também é preciso levar em consideração a emissão de CO2 referente ao transporte”, pontua a profissional.
A Designer de Interiores Bruna Villas-Bôas e a fotógrafa Gabriela Daltro terão um espaço dedicado ao Reuso na Casa Cor 2023. (Foto: Divulgação)
De acordo com ela, cada material tem seu tempo de uso e desgaste natural, por isso, na hora da escolha é preciso analisar criteriosamente cada item para definir onde e como ele pode fazer parte do ambiente: “É preciso levar em consideração também quais procedimentos deverão ser feitos para que aquela peça possa ser reutilizada, já que nem toda reciclagem é um processo sustentável, assim como nem todo material para ser reutilizado atende aos critérios de sustentabilidade”.
Em outras palavras, se uma peça em madeira, por exemplo, não foi bem cuidada ao longo dos seus 100 anos, tentar recuperá-la pode ser mais trabalhoso e poluente que dar um outro destino a ela. A mesma coisa vale para outros materiais: “É preciso colocar na balança e contar com o auxílio de uma consultoria especializada, pois sustentabilidade é algo mais complexo do que se imagina”, destaca Bruna.
Um espaço dedicado ao Reuso na Casa Cor 2023
A importância do reuso no setor fez com que o assunto fosse pauta da nova edição da Casa Cor 2023. Neste ano, a mostra receberá a “Nossa Galeria”, novidade que foi contada em primeira mão para a coluna Arquitetando.
Feito a quatro mãos, o projeto traz como diferencial o diálogo entre arte e design, fotografia e memória sobre a artista Gabriela Daltro e suas pluralidades. “A nossa galeria propõe guiar essa tendência por meio de uma abordagem crítica, sugerindo uma reflexão sobre os excessos. Por exemplo, a indústria da construção civil já está no limite em relação à produção de resíduos”, explica Bruna. Para provar que é possível unir arte e arquitetura, o espaço vai contar com materiais de reuso que vão desde molduras que abraçam as obras de arte expostas aos tecidos que darão acabamento à marcenaria.
O ambiente terá uma janela com vidro bisotado, típica das casas brasileiras da segunda metade do século XX, garimpada no Arquivo SSA – um lugar com uma proposta atual e ao mesmo tempo um paraíso para quem busca alternativas de materiais reutilizáveis para construir ou reformar. “Essa janela, que estará em Nossa Galeria, despertou a memória de Gabriela e, certamente, despertará doces lembranças de quem viveu as décadas de 80-90 no Brasil”, complementa a designer de interiores.
Janela com vidro bisotado, típica das casas brasileiras da segunda metade do século XX, garimpada no Arquivo SSA para a Nossa Galeria da Casa Cor Bahia 2023. (Foto: Divulgação)
As janelas da Casa Carcará, na Chapada Diamantina, são protagonistas com o mosaico proposto pelos arquitetos. (Projeto: Bruna Rios, Mariângela Bastos, Lara Guimarães e Victoria Nizarala/Foto: Dander Freitas).