Opinião: Portabilidade de prefeitos vira trunfo do governo Jerônimo, mas é parte do processo político
Por Fernando Duarte
As últimas semanas têm sido marcadas por anúncios de “troca de lado” de prefeitos que estariam a apoiar ACM Neto (União) em 2022 e, agora, migraram para a base aliada do governador Jerônimo Rodrigues (PT). É um prato cheio para provocações e para acusações mútuas, especialmente do lado da oposição, que se rebate para não parecer esfacelada, tal qual o governo tenta pintá-la. Parte do “molho político”, não há nenhuma surpresa nesse jogo.
Parcela expressiva dessa virada de chaves é resultado do pós-eleições municipais de 2024. A grande maioria das cidades é dividida no que os políticos costumam chamar de banda A e banda B. Um grupo sempre sai derrotado e o outro fica na oposição, muitas vezes se alternando do poder até que surja uma terceira via e suplante um dos agrupamentos. Por isso é tão comum que os grupos que venceram nas eleições recentemente busquem se aproximar daqueles que estão no poder.
O que Jerônimo e o entorno dele têm feito é aproveitar essa janela de oportunidades para atrair aqueles que, até bem pouco tempo, marchavam lado a lado com os adversários para enfraquecê-los discursivamente e, paralelamente, minando a ascendência da oposição no interior da Bahia. É uma boa estratégia, frise-se. Reforça a imagem de boa articulação e fragiliza o opositor em potencial (leia-se o candidato derrotado em 2022 e que, até então, se constrói enquanto candidato ao governo novamente).
No último pleito estadual, a máquina pública foi usada para beneficiar o candidato governista. O então governador Rui Costa, que tratava prefeitos com distanciamento e evitava celebrar acordos, acelerou a liberação de convênios e ou a recebê-los diuturnamente, na governadoria, no Palácio de Ondina e nas agendas externas. Foi um dos trunfos para que Jerônimo crescesse nas pesquisas e quase encerrasse o pleito no primeiro turno. Agora, o governador antecipou esse processo e está “cooptando” todo e qualquer prefeito que queira ter o às benesses de integrar a base aliada.
ACM Neto se tornou uma espécie de “patinho feio”. Sem poder e sem condições de barganhar e manter os apoios — especialmente em um contexto de não o ao governo federal, aliadíssimo do governo baiano —, o ex-prefeito de Salvador parece sem fôlego. Diante dessa condição, ACM Neto fica a mercê de algo grau de fidelidade/ lealdade cada vez mais incomum na cena política. Ele, então, fica cada vez mais distante de uma perspectiva de poder, o que gera ainda mais afastamento de aliados (não tão aliados, convenhamos).
Os movimentos, todavia, não significam que a oposição deixará de existir ou chegará a 2026 como um zumbi. Uma parte desses prefeitos, inclusive, são adaptáveis e, caso percebam que o governo não tem muito a oferecer ou que ACM Neto tem alguma chance de vencer a disputa, não hesitarão em fazer a portabilidade novamente. Talvez seja nisso que a oposição se apoie para evitar entrar em clima de derrota prévia.
Enquanto isso, o governo vai celebrar e evidenciar que prefeitos mudaram de lado e que a banda que chegou ao poder em 2024 nos municípios abandonou os adversários. Mérito de quem conseguiu “conquistar” o coração desses mutantes. Racionalmente, eles estão certíssimos. Mas, na política, há também um quê de emoção em jogo. Sempre.