Brasil obtém certificado de país livre da febre aftosa sem vacinação e deve ganhar novos mercados para carne
Por Mauro Zafalon | Folhapress
No momento em que o Brasil luta contra a gripe aviária, vem uma boa notícia de Paris na questão sanitária brasileira. O país foi declarado livre de febre aftosa, sem vacinação, pela OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal).
A partir de agora, a carne bovina brasileira poderá alcançar mercados até então fechados para o país, e que remuneram mais. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina, atrás dos Estados Unidos, e líder nas exportações. No ano ado, foram colocados 2,9 milhões de toneladas no mercado externo, com receitas de US$ 12,9 bilhões, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).
Com o certificado, os produtores deixam de vacinar os animais. "O país terá de aprimorar a vigilância sanitária e a emergência. Sem elas, o risco cresce muito", diz Pedro de Camargo Neto, pecuarista e que esteve por dez anos à frente do Fundepec (Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado de São Paulo).
A vigilância vai do cuidado do produtor ao serviço de proteção animal. Já a emergência é necessária para que, ao aparecer um foco, o isolamento da área seja rápido, afirma ele.
Gedeão Pereira, vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que o reconhecimento é um o importante, mas traz mais responsabilidades para o setor, tanto na esfera pública quanto na privada e, principalmente, para os produtores. Para o presidente da entidade, João Martins, é uma conquista para os brasileiros.
Roberto Perosa, presidente da Abiec, afirma que a certificação já sinaliza novos negócios para o país. Filipinas e Indonésia manifestaram interesse imediato em importar miúdos bovinos com base nesse novo status sanitário.
Além disso, é um ativo estratégico em negociações com países com mercados exigentes, como o Japão, que enviará uma missão ao Brasil no próximo mês.
A mudança de status, no entanto, exigirá adaptações, uma vez que a certificação elimina barreiras técnicas, mas o governo terá de renegociar diversos certificados sanitários internacionais, afirma o presidente da Abiec.
Luciano Vacari, ex-diretor executivo da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso) e ex-presidente do Imac (Instituto Mato-Grossense da Carne), diz que os milhares de quilômetros de fronteiras que o Brasil tem com outros países vão exigir muita vigilância. O trânsito de gado entre essas fronteiras é intenso quando há diferenças grandes de preços entre o Brasil e outro país vizinho.
Camargo Neto destaca também o perigo que vem do aumento no número de animais exóticos, como o javaporco. É necessária uma política pública para o combate desses animais, a fim de diminuir os riscos.
A CNA alerta que a febre aftosa é uma doença de rápida disseminação, e os impactos econômicos, quando ela aparece, são grandes. O produtor tem de interditar a área do foco e abater todos os animais para evitar a propagação do vírus.
O Brasil completa quase duas décadas sem a doença. Os últimos focos ocorreram em 2006, no Paraná e em Mato Grosso do Sul. No ano seguinte, Santa Catarina foi declarada o primeiro estado livre da febre aftosa sem vacinação.
A vigilância tem de ser constante. Neste início de ano, a doença voltou à Alemanha, 40 anos depois de o país estar livre do vírus. O impacto é muito grande para o produtor, devido ao abate dos animais. Daí a necessidade um fundo de compensação, afirma o ex-presidente do Fundepec.
O Uruguai já foi declarado livre da febre aftosa sem vacinação, teve um caso da doença e voltou a ser livre, mas com vacinação.
Assim como ocorre atualmente com a gripe aviária, os protocolos sanitários e comerciais de regionalização são importantes para que os países não façam embargo total da carne brasileira em casos da doença.