Conexão Baía: Blackadder, o naufrágio que se tornou um tesouro submerso na Baía de Todos-os-Santos!
Na última sexta-feira demos início, no site Guia BTS, a uma série de reportagens especiais sobre os naufrágios históricos na Baía de Todos-os-Santos. Há acervo incrível embaixo das nossas águas, desconhecido, inclusive, de muitos de nós que moramos aqui. Eu (@mayarapadrao) resolvi começar pelo Blackadder porque foi a minha primeira experiência como mergulhadora, que me deixou apaixonada até hoje, atém de inconformada com o que estamos perdendo ao não desenvolver e aproveitar este potencial. A série tem o objetivo de tornar este acervo mais conhecido de todos nós, fomentando o turismo de mergulho na BTS.
O Blackadder tem uma característica importante, comum a outros naufrágios nossos, que é a ibilidade. Num recorte urbano único no mundo, podemos á-lo diretamente da praia, nadando, sem precisar embarcar. Além da proximidade com a costa, o que otimiza sensivelmente a experiência, o naufrágio se encontra a aproximadamente 9 metros de profundidade. Ou seja: perfeito para você, que nunca mergulhou antes, viver sua primeira experiência.
Descansando silenciosamente no fundo da Baía de Todos-os-Santos, ele conta histórias de um tempo em que o mundo era movido pelo comércio de chá, velocidade e grandes tempestades. O Blackadder, um dos últimos clippers de ferro construídos para o comércio entre a Inglaterra e a China, sempre carregou uma aura de pouca sorte. Logo em sua primeira viagem, sofreu um acidente, e sua história trágica culminou em 1905, quando foi arrastado contra os recifes da praia de Boa Viagem. Ali, com seus mastros que um dia o tornaram imponente, ele se despediu e afundou.
Blackadder é um verdadeiro paraíso para mergulhadores, estudiosos e curiosos como eu, que buscam mais do que apenas belezas naturais — desejam mergulhar na história. Meu amigo, biólogo marinho e instrutor de mergulho Robson Oliveira, reforça a relevância desse sítio arqueológico. "Ele era visto como um azarão. Sofreu um acidente logo em sua viagem inaugural e, após reparos, naufragou novamente em Salvador por conta de uma forte tempestade", conta Robson, cuja paixão pelo Blackadder é evidente em cada palavra.
Os destroços do navio, ao longo do tempo - como costuma acontecer - transformaram-se em grande recife artificial, abrigando corais, moreias, cavalos-marinhos e até peixes raros. Robson ainda se lembra de quando fez um dos registros mais importantes de sua carreira ali: “Um dos meus momentos mais marcantes foi quando registrei um peixe chamado Hogfish, o primeiro dessa espécie no Brasil. Esse dado foi publicado em uma revista científica internacional”, conta.
O Blackadder é um lembrete constante de que a história nunca desaparece por completo. Ela permanece viva, submersa, à espera de quem esteja disposto a descer e descobrir seus segredos. Que possamos não apenas explorar esses sítios incríveis, mas também cuidar para que eles continuem a contar suas histórias por muitas gerações. Ele está localizado, inclusive, numa área em vias de se tornar oficialmente protegida, o Parque Marinho da Cidade Baixa.
Mergulhar no Blackadder é mais do que um simples eio subaquático — é uma viagem no tempo. Eu mais do que recomendo a experiência! A próxima reportagem nos contará a história do Galeão Sacramento. Para acompanhar a série e ficar bem informado sobre a Baía de Todos-os-Santos, e guiabts.com.br (favor inserir link).
Um beijo e até a próxima sexta!
Mayara Padrão