Ildazio Jr.: Uma terra cheia de arte e sempre sem muito palco!
Cara, fiquei impressionado como só agora, com a saída de cena do palco principal do TCA e o desnecessário retorno ao valor cheio da pauta, “uma questão de gestão” da Concha Acústica vem à tona. Sinceramente, para mim é um excelente local para ir assistir um show, mas difícil para se ganhar grana como produtor – a menos que tenha Maria Bethânia, Marisa Monte, Chico Buarque ou Gilberto Gil. O bar é caro, insalubre, com um péssimo atendimento, cerveja “porta de geladeira” e pipoca dormida. A classe acordou – digo a classe como um todo, e não espasmos em redes de um e outro (eu, por exemplo, há mais de 15 anos) – para perceber que quase não existe solo para se plantar e colher frutos dos seus investimentos no entretenimento, quer seja musical ou cênico e afins, por aqui. E olha que somos a maior terra na cultura, porém, a maior sem palcos também. Que vergonha!
Salvador vem definhando no quesito teatros há mais de 20 anos, desde o Maria Bethânia que virou churrascaria e hoje é uma clínica médica, ao Acbeu demolido... E não falo só para peças globais, show de famosos, e sim para a manutenção e desenvolvimento de uma cena artística local forte e pulsante que de fato existe e precisa aparecer e sobreviver urgente! Mas como o que está ruim pode piorar, esse incêndio afetou o palco maior e outros pontos na estrutura deste que é um dos maiores do Brasil, o TCA, um equipamento que salvo engano não a por uma reforma há mais de 15 anos e custa aos cofres públicos R$ 40.000,000,00. E metade deste montante vai para a manutenção dos “corpos estáveis”, ou seja, a OSBA e o Balé, segundo o diretor em recente entrevista na Rádio Metrópole. O fogo foi a gota d’água . E longe de mim questionar valores, pois salvo engano existem aí projetos de isenção fiscal. Além de que, por mais difícil que seja entender, sim, se faz necessária a manutenção destas duas entidades culturais baianas abrigadas no majestoso Teatro Castro Alves. Sem elas fica pior, né?!
Olha um Raio-X do cenário inóspito de palcos que minha amiga produtora e batalhadora Marluce Sie postou no Facebook por esses dias, pedindo atenção aos poderes públicos, que se pronunciem e tomem uma atitude... Pois um setor tão importante para a Bahia não pode, depois de ser o primeiro a parar, o último a retomar em uma pandemia insana, receber tal coice após a queda e ser mais uma vez punido, não só pela falta de palco, mas com a insensibilidade e frieza dos poderes públicos em relação à criação e manutenção de espaços para que a arte e a cultura sobrevivam a um custo subsidiado mesmo... Ou cultura não presta para a sociedade que paga imposto? Manter a cultura é um dever do Estado!
Olha esse cenário:
Teatro ICBA: FECHADO
Teatro Acbeu: DEMOLIDO
Teatro Isba: FECHADO
Teatro Diplomata: ABERTO SÓ PARA FORMATURAS, ETC.
Teatro Sesc: FECHADO PARA REFORMA
Teatro Castro Alves: FECHADO PARA REFORMA DO TETO, APÓS INCÈNDIO.
Teatro Jorge Amado: ABERTO - 418 Lugares
Teatro Módulo: ABERTO - 282 Lugares
Teatro Vila Velha: ABERTO -235 lugares
Teatro Martim Gonçalves: ABERTO - 192 lugares
Teatro Gamboa: ABERTO - Não consegui informação
Teatro Sesi: ABERTO - 90 lugares
Aliado a isso, o movimento empresarial do Axé, que poderia, devido ao poder financeiro, nunca se deslumbrou para poder edificar uma ou duas casas de shows maiores. Mesmo porque estavam mais ocupados em surfar a onda da grana farta (eu faria o mesmo, talvez, nessa corrida ao ouro!). E, se tinha uma bem mais pujante indústria de estruturas rodando em alta como toldos, banheiros químicos, ferros, palcos, bares, luz, geradores e som que faturava e empregava muito, e dificilmente algum empresário iria nessa. Mesmo porque o trio elétrico precisava rodar e um NÃO SEI O QUE HALL ou outro AXÉ CENTER poderiam quebrar essa cadeia, né, fera?! Normal e algo nada desejado por nenhum player à época!
Enfim.... A Prefeitura ou do tempo de ter um grande teatro. E sei que o Secretário de Cultura do Município, Pedro Tourinho, e o Prefeito Bruno Reis estão com essa pauta no prelo. Fico aqui no aguardo que a SECULT acelere o a obra do TCA, reveja o Fazcultura, amplie o teto e retome os percentuais antigos de desconto para as empresas, amplie editais, reveja essa política cultural (se é que existe uma) e facilite o máximo possível a vida destes seres que arriscam muito, quer pelo amor, necessidade ou devoção à cultura. Eles criam muitos empregos, pagam muitos impostos e geram muitas benesses a essa sociedade a cada dia mais doente, e precisando de arte para ser curada!
Oremos e Viva a Cultura!