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Flavinho, do Pagod'art, comenta sobre novos artistas do pagodão: “Todo mundo com o mesmo swing”
Por Laiane Apresentação
Quando a carreta a, na Bahia, é sinal de que, acompanhado dela, vem o ritmo contagiante e cheio de swing da banda Pagod’art. Há 25 anos na estrada, os amantes do pagode baiano reconhecem ao longe o bit irreconhecível do cavaquinho do grupo, liderado por Flavinho.
Com um retorno estrondoso à banda em 2021, após carreira solo, a união de Flavinho e a carreta explodiu - no bom sentido da palavra - neste último Carnaval soteropolitano. Duas músicas na boca do povo, projeto audiovisual em andamento, cinco dias de trios nos principais circuitos da cidade… Este é considerado pelo cantor como o recomeço da banda.
“Tudo que eu vivi antes é uma experiência, nunca vivi aquilo ali [Carnaval 2025]. Todo ano é: você começa o carnaval e você [pensa] será que eu consigo? Será que eu não consigo? [No] Primeiro ano que eu fiquei rouco, eu não consegui cantar, entrei em desespero… Tudo é aprendizado. Então, tudo isso, esse ano, foi uma volta”, explicou ao Bahia Notícias.
Com 23 anos de carreira junto a banda, o cantor acumula grandes hits do imaginário baiano como “Uisminoufay”, “Ovo de Avestruz”, “Se Você Quer Tome”, “Respeite Carandirú” e “A Soma”. Com o longo repertório, vem uma longa conexão com o público junto ao ritmo considerado irreconhecível por Flavinho. “Eu tenho o meu swing. A galera vai escutar para de longe o cavaquinho do Pagod’art”.
Possuindo tanto tempo na estrada e tão familiar a sua própria identidade, Flavinho explicou em entrevista a falta de uma diferenciação entre os novos artistas do pagode baiano. “A galera nova, com swing novo, tá todo mundo massa, mas é contado a dedo quem tá criando uma identidade. Todo mundo com o mesmo swing. Se você escutar uma batida aí, você não sabe quem é. ‘Pô, meu Deus, será que é tal banda, tal banda, tal banda?’ E a voz todo mundo parecida”, pontuou.
Ao Bahia Notícias, o cantor conversou sobre sua trajetória na banda, o sucesso no Carnaval soteropolitano de 2025 e opinou sobre os novos artistas do gênero baiano. Confira a entrevista completa:
Como foi para você todo esse período [do Carnaval de 2025] e como é você está se sentindo agora que ou?
A gente vem dando aquele inho de formiga, né, formiguinha. Já tem um bom tempo que a gente não perde a nossa raiz, nosso estilo de música. Uns falam: "Ah, tá ultraado", etc, mas quis mostrar a galera que nunca é tarde, é se dedicar sempre. Independente de qualquer ciclo de musicalidade, você tem que estar sempre se dedicando. Não se acomodar, quando a gente fala se acomodar assim [é] não deixar de cantar suas músicas, não deixar de ensaiar e o carnaval não foi diferente.
A gente conseguiu esse marco para a gente assim de estar podendo tocar praticamente cinco dias. Não é que a gente não fazia Carnaval, a gente toca no Carnaval, saía para esse mundão todo e fazia aqui em Salvador uma vez só ou duas. E quando a gente teve essa missão de estar tocando cinco dias aqui em Salvador foi tenso até para a gente, né? “Será que a gente consegue?” Porque a gente não está mais acostumado com o percurso de trio de 5 horas de relógio, 6 horas. “Vamos contar com o engarrafamento? Vamos contar com um trio de alguém quebrando na frente? Será que a gente está com esse repertório aí?”
Repertório a gente sabia que tinha, não sabia se o povo ia aderir aquelas músicas que a gente já tinha para tocar. Então, a gente focou bastante nesse trabalho e quando chegou no dia correto, né, todo mundo tenso, mas quando você chega aqui que vê o público, que você vê o trio organizado, todo o primeiro o ali, você vai tenso, mas quando você começa a cantar a primeira música, você já tá solto, tá vindo pro meu mundo e quando você vê o povo abraçando, gostando daquilo ali, aí é válido todo o esforço que você fez.
E esse Carnaval aí a gente deu o máximo, deu cambalhota… “Como é que você conseguiu ficar do lado de fora do trio? Aí eu digo: ‘Ó, irmão, acho que aquilo ali foi do nada’. Foi uma galera embaixo que eu perguntei: ‘Posso fazer uma quebradeira? Se eu fizer uma quebradeira, vocês gritam aí?’.” Então foi assim, tô indo aí. Graças a Deus, deu certo. A gente teve um [bastante] ensaio, uma programação muito organizado.
De todos os carnavais que eu ei na minha vida, era mesmo assim: vai para casa, volta aí. O pessoal da produtora me colocou assim em um lugar legal, com que eu estivesse tranquilo, com a mente tranquila. Eu já vim de uma temporadazinha meio turbulenta, muito turbulenta. E para fazer o carnaval eu tinha que estar no mínimo com a mente um pouco tranquila, né, para poder fazer.
E graças a Deus, a gente conseguiu ar por aquilo ali, a gente fez um Carnaval, eu digo para todo mundo lá da banda, para a gente foi esplêndido. A gente ficou muito um olhando para o outro, “Como é que a gente conseguiu?”, “Como é que foi isso?”, “Como é que foi aquilo?”, só em saber também que a música da gente concorreu [à Música do Carnaval 2025], os caras [falaram] “vamos fazer enquete”, Não precisa fazer enquete nenhuma não. Tá lindo aí, a gente já é campeão, quando eu falei “campeão”, não era por ganhar a Música do Carnaval, era só entrar naquele roteiro ali.
Eu tenho o quê? 25 anos de carreira e eu nunca fui, nunca teve uma música nossa assim concorrendo ao Carnaval. Então aquilo ali para a gente assim foi muito importante mesmo. Já tem uma , eu tenho isso aqui, já ganhei. Quando eu falo a todo mundo: “A gente já ganhou aqui já, pô. Mas a gente ganhou uma música, não pô, a gente já ganhou, a gente nunca foi selecionado para essa parada aqui”.
A gente já está sendo selecionado, isso aqui para a gente já é muito. Agora é só entregar na mão de Deus. Eu fiquei muito feliz com o Carnaval da gente, a gente programou isso também. É bem, tem que dizer isso também para a galera, porque é muito ensaio. E olha que eu sou ruim de ensaio, que eu não gosto de ensaiar. Aí a Kardec ensaiando, Franco, os meninos me ando as coisas.
E aí, graças a Deus, os nossos amigos, a nossa parceria, os fãs também entenderam que acho que não precisava mudar de estilo, né? Não precisava tirar o cavaquinho e tal. E tanto é que uma música nossa virou o “Bit do Cavaquinho”. Revolucionou muitos músicos que tocam o cavaquinho e falam assim: "Rapaz, a gente estava frio. Esse bicho do cavaquinho aí do Pagod’art renovou a gente também. Até músico meio que estava triste tocando".
Como é para você se manter assim nas graças do público, mesmo depois de tanto tempo?
Eu acho que é mais o jeito mesmo da galera, né? O respeito que eu tenho com Folião, nos lugares que eu o, eu me sinto bem e a galera assim… tem um momento ali de “hoje eu vou fazer por esse cara”, então fizeram por mim. Eu só tenho a agradecer a Deus, abaixo de Deus, os anjos de guarda, os orixás, porque é surreal. Sem entender assim, “ah Flavinho você é estourar não, não sou mais para mim, para minha família é um você renascer das cinzas.
Eu tenho 45 anos, a galera imagina “pô, quando chegar 40 esse bicho não vai dançar mais”, é isso: é querer. Então eu escutava isso no tempo pagode antigo, “véi, daqui a pouco você vai fazer 40 anos, você não vai ficar mais dançando de velho”. Rapaz, eu tô começando minha carreira com 45. Então, isso aí para mim nunca é tarde, eu gosto de dança, gosto de me movimentar bastante. Então eu sei que além de cantar, dançar é uma alegria para mim. Quando eu não consigo fazer um show dançando eu fico incomodado.
“Irmão, seu show foi legal”, eu digo: “não velho, não consegui dançar o que eu queria”. Então, eu fico feliz em poder ver assim que a galera tá curtindo o som, tá indo atrás do trio, dançando. Aí a gente vai lembrando, né… No meu tempo mesmo de você ir para um show, você [ia] ver uma galera dançando, mulher dançando, o cara… No meu tempo você [ia] para o pagode para ver uma gatinha dançando, os caras vão meter a coreografia da gente para as meninas olharem a gente dançando, vai se apaixonar por alguém, vai gostar da dança, ou vai ser amigo, mas o importante era que a gente queria fazer o nosso ciclo ali e tudo pela dança.
Então eu sigo isso até hoje, isso até hoje. Eu falo até com o Ninho, o produtor de Rodriguinho, ele hoje [é] Ninho Cardoso. É de lá de Barra Grande, da Ilha, ele é nativo mesmo da ilha. Eu não sou nativo, minha família é de lá, mas nativo mesmo eu não sou. E a gente tinha o grupo da gente, né? Eu, meu irmão, Marcelo, meu primo, Ninho. Ele com o Rodriguinho hoje, eu falei: "Ah, era você era dançarino, viu, velho? Fique na sua". Aí ele: "Porra, Cabeça você não esquece, não”. Como é que vai esquecer, pô?
A gente se empolgava. Ó, 9 horas da noite todo mundo lá na frente da praça, viu? Vai rolar o paredão lá e a gente vai meter dança. Então isso aí, quando eu vejo hoje a galera fazendo dança, eu fico olhando alegre. Eu fico muito grato e feliz em poder ver a galera também voltando a dançar, né? Não só curtir a música, mas voltar a dançar tanto o homem, como mulher, sem receio de nada, né? Uma dança bonita, quem tem molejo, quem tem swing, é que se solte, velho. Vá porque é bom.
E você sente assim alguma diferença ao ar dos anos de um carnaval para o outro? Tem algum momento assim que ficou marcado para você?
Como eu falei para você aqui agora, eu tenho 45 anos hoje. Hoje para mim foi o recomeço, não é o começo para mim. Tudo que eu vivi antes é uma experiência, nunca vivi aquilo ali. Todo ano é: você começa o carnaval e você [pensa] “será que eu consigo, será que eu não consigo?”
Primeiro ano, eu fiquei rouco, eu não consegui cantar, entrei em desespero, tudo é aprendizado. Então, tudo isso, esse ano, foi uma volta assim que eu tinha toda a programação, tinha uma estrutura que cuidava de mim hoje, né? Com fono [fonoaudiólogo], ei no médico antes, eu tinha feito meu check-up geral antes, tudo que você vai vindo com a idade, você vai aprendendo. Então, esse ano, graças a Deus, só não tinha como dar errado, por conta assim, eu fiz a programação correta.
O errado é assim, o empecilho do dia a dia, é aquele é o que a gente não sabe do tempo, né? Ao mesmo tempo, para meteorologia, tá dizendo que tá dando sol, daqui a pouco vem uma nuvem e a chuva. Então, a gente tem uma base do que é, mas pode vir e acontecer. Então, eu me cuidei.
Gosto de tomar uma cerveja mesmo, gosto de tomar uma gelada e para esse tempo aí foi difícil para mim. Que eu gosto mesmo, né? Meus amigos sabem. Fez assim, tem 10 dias aqui já, eu sei tomar uma. Aí é, eu vou assim. Quem anda comigo todos os dias sabe. Eu comecei o foco, treino. Aí já parei de jogar bola, só jogava uma altinha, pegava um futmesa, um futvôlei. Então, as minhas coisas que eu gosto 100%, eu não tirei 100%. A única coisa que eu tirei 100% foi o gelado [cerveja]. E aí e graças a Deus deu certo, né? E empolgadíssimo.
Você sentiu alguma dificuldade assim se readaptar com o seu público, de se reaproximar dele de novo, ou foi uma coisa muito natural?
Não, assim, é porque a gente tem aqueles fãs raiz, né? Com essa galera a gente não sentiu dificuldade nenhuma. Quem é fã Pagod’art, “carreteiro”, “ah, eu sou do Pagod’art”, mas eu sou Flavinho. Então esses aí a gente não teve dificuldade nenhuma. Por incrível que pareça, eles davam até palpite, falei: “calma, vocês não tem que dar esse palpite, não. É com tempo”. Porque eles comparavam outras bandas, a pessoa que é fã apaixonada: “não porque não sei quem está fazendo isso”, velho, calma, não é o nosso momento!
Tem altos e baixos da vida de todo mundo. Vocês têm que “porque eu estou escutando esse”, calma, o que você escuta, eu escuto também, mas eu tenho que absorver que o momento agora é de tal pessoa, não é meu. É, o triste para mim que eu fiquei assim, é difícil sentir um pouco por conta de não estar assim num holofote legal, a música para ir na rádio era uma dificuldade, a gente para estar numa TV tinha uma dificuldade maior. Aí era, aí eu fiquei um pouco triste, assim, né? “Como será, meu Deus, que eu não estou cantando mais?” Aí você começa a imaginar mil coisas, né?
E, mas só que a gente estava sempre tocando, tocando fora, viajando muito. Não tinha uns holofotes, mas o berço de tudo é Salvador. Se você tá bem aqui em Salvador, você [tem] as portas abertas pro mundão, né? Então, quando você fala assim, “você é da onde? sou soteropolitano, você é soteropolitano?”. Aí eles já entendem que aqui a gente tem uma raiz fortíssima. Então, pra gente voltar ao ciclo, a gente precisou ter um trabalho muito forte aqui em Salvador de novo, para aí a 100% eu entender a gente.
Então, para isso não adiantava eu ter 100% da marca sozinho. E aí, a gente teve que ter uma reunião, disse “o sol tem que brilhar para todos. Preciso de um sócio que me ajude. Eu preciso de um número disso aqui”. Então não adianta só eu “ah eu tenho Pagod’art sozinho 100%”. Não, até porque quando a marca Pagod’art ficou aberta de novo, eu descobri por um fã.
O fã falou: "Se eu tivesse 250.000 eu comprava a marca do Pagod’art e dava”. Então isso para mim é uma parada muito gratificante isso para mim, uma pessoa tá com esse pensamento, aí eu tava conversando hoje, a galera falou: "Não, a Flavinho merece isso, merece aquilo". Então eu sou muito grato a tudo isso aí. É, mas eu sofri um pouco assim, fiquei triste, ficava pensando, a minha vantagem era que sempre tive uma galera boa, né?
De família, de amigos. Eu também nunca fui essa pessoa de tá em holofote, briga, polêmica. No meu momento muito baixo, assim, na minha carreira, teve situações para ter polêmica, eu me escondi. “Ah, que é que você acha". A minha linha para eu crescer na vida tem que ser com música, não é com polêmica. Então, quem tem seus táticos, eu respeito, mas eu eh esperei o momento, né? Vamos ter paciência, que é desse jeito, a gente não pode ar por cima de ninguém. Aí eu tô vivendo.
E vive nesse momento, né? Que é um momento que a gente é feliz em algum lado e ao momento quando você tá sozinho, você tem suas tristezas, do lance da minha carreira hoje. Tem pessoas que precisavam tá curtindo isso, não tá curtindo hoje.
Que viveu a vida toda comigo, hoje é um primeiro o, de a gente dar um de alavancada, que a gente não sabe o que vai acontecer amanhã, mas hoje a gente entende que o projeto que a gente fez: é que a gente tá dando um o à frente. Uhum. Entendeu? Então, exemplo assim, a gente aí tem pessoa, tem uma pessoa que precisava estar, né? E é assim, a gente entende a vida e vamos trabalhar para a gente, saber que no interno tá com a gente.
A conexão com o público ajuda demais a equilibrar esses dois lados?
A energia, a gente vive muito sobre. Eu vivo, particularmente, sobre a energia positiva boa, né? Eu vivo muito isso. Tava conversando com as meninas mais cedo. Pô, o ambiente da gente aqui, eu estou conversando com vocês melhor, eu tô pensando em tal lugar que a gente vai para Feira [Feira de Santana], “E aí, como é que vocês vão fazer isso, é?”, “Pera aí que eu tô pensando”.
Eu vou aí então pela energia delas, as meninas que tão me acompanhando são boas de trabalho e boas de energia. Então o fã quando tem essa energia comigo, me conecta bastante, até no dia que eu tô estressado. Roda para lá, “Pera aí, pera aí, você quer o que mesmo, rapaz? Me diga aí. Posso te ajudar como? Sabe por quê? Porque olha, eu tô com um problema também que tava aqui e esse meu problema você não pode me ajudar agora”. Aí você vai assim, eu consigo me conectar legal com a galera.
Como que você faz assim para ser atualizado e manter essa conexão nas redes sociais para você poder divulgar o seu trabalho também e alcançar novos fãs?
No meu tempo não não tinha essa conexão. [No] Meu tempo é: ou você bota uma música boa e bota na rádio, você tem que ter um empresário e ter um dinheiro ou só música que tem que ser aquela música estourada que vá tocando ali. Eu hoje, entendo a realidade da vida mesmo. A gente tem uma facilidade hoje de rede social bem melhor para o que era antigamente, mas eu entendo também que a gente tem que ter um profissionalismo. Eu não dou conta disso aqui sozinho. Eu já tive vontade de dizer: "Não, eu resolvo”, mas [é] impossível.
A gente tem que ter um grupo, a gente tem que ter uma equipe. Hoje sozinho não dá. Ah, mas você é o melhor cantor de pagode do mundo. Eu digo: "Mas eu sozinho não sou, pô". Então, eu tenho que ter uma equipe, eu tenho que ter essa parte aqui, “ó, alguém tem que me acordar”, eu tenho meu dia de calundu do mundo, eu tenho que ir alguém, tem que, você tem que ter um grupo com você. “Bora, levanta aí agora”. “Cadê você".
Aí vai alguém, sempre tem um que filho e meu inimigo, mas hoje você vai, amanhã a gente conversa. Pau quebra ali, então você tem que ter um grupo. E sobre essa sequência aí hoje, eu agradeço muito a Deus a rede social, porque foi daí que eu ei a sobreviver, a trabalhar, a tocar, porque eu não estava assim nos holofotes de TV, de rádio, de nada. Então tudo que a gente ia gravando, a gente vai metendo uma conexão aqui para um, conexão para ajuda aí, vamos fazendo.
De qualquer forma, para sua chegada nos lugares, o que não chegava antigamente, você tinha que ter um cara, um contratante que pegasse seu CD para sair de carro entregando a todas as rádios. O meu tempo é desse. Então quando eu chego hoje, o menino chega só com um cavaquinho, começa a cantar e viraliza na rede social, o cara já está estourado, já tem uma banda montada para ele. A gente não, a gente tem que montar uma banda, ver o instrumento de não sei quem. “Será que alguém tem instrumento? Pede um expressar de não sei quem”.
Então, tudo isso aí, eu hoje eu agradeço a equipe que a gente tem, né? Entendi que precisava dessa equipe. É você dar um o para trás no momento correto. Eu não sou o sabichão da onda, eu tenho que “Ó, essa aqui, essa área não é minha. Quem é que é dessa área?” Me ajuda aí. Vamos aqui. Ó, isso aí você merece ganhar bem. Você fez bem isso. É, ó, vamos fazer. A gente tem uma reunião, digo: “pô, se liga aí, velho. Qual o número da gente?” Pô, isso aqui merece. Vamos lá, vamos fazer por justo também.
Então, “ó, se subir nosso cachê lá, sobe um pouquinho de não sei quem também”. Aí eu vou assim, né? Os cara: "Pô, você é uma mãe". Eu digo: "Mas não é, irmão. É o que eu quero para mim, entendeu?" É o que eu quero para mim. Vamos pegar uma estrada, digo: "Vai parar para almoçar para um melhor restaurante aí". “Pô, mas tá dando R$ 400, a minha irmã”. “R$ 400, velho. Paga mais aí, vamos comer bem, vamos pegar terra”. Aí então são coisas que a gente ou lá no tempo atrás que hoje eu não quero para mim, eu não quero para ninguém que trabalha comigo. Empecilhos da estrada vai acontecer.
A gente pegou um agora, há pouco tempo, aí que a volta do feriado é engarrafamento. Você para num posto desse de alimentação, acabou a comida. Aí você tem que comer… eu mesmo, 200 anos que eu não como pastel, eu tive que comer dois pastéis porque eu estava morrendo de fome. Botei ali, catchup com maionese, vamos se embora e vou ali aqui e vamos embora. Então tem momentos assim que a gente entende que tem que acontecer, mas sempre procurando o melhor.
Como foi para você ver a sua música tocando lá no estádio de Beyoncé?
Eu, na verdade, eu fiquei azoado, né? De madrugada, eu boto meu celular no modo avião, aí ultimamente aí como os meninos assim. Sai, vai para, a faculdade termina tarde, chega tarde, Flavinho tá no treino, Felipe Souza chega no trabalho, eu digo: "Não vou botar mais em modo avião não, qualquer momento esses meninos me ligarem". Aí eu esqueci, já não, não boto mais em modo avião, mas quando chegou de madrugada que eu virei, eu digo: "Que tanta mensagem é essa"? Aí o povo falando: "Você já viu? Eu já vi". Eu digo: "Rapaz…” Aí a equipe, né?
Essa equipe aí já ligeira, quando eu digo: "Rapaz, aconteceu isso, aconteceu aquilo”, como é que você ligou: "Aonde, rapaz"? "Não, velho, o DJ de Beyoncé". Eu digo: "Como é isso, rapaz? Me explique direito aí". Aí eu já acordei hoje, digo: "O que é você dormir"? Eu tava tava numa resenha com os amigos, a segunda-feira pra gente é um domingo, né? Aí fui pra casa de Renanzinho da CBX, – a gente reúne agora toda a segunda-feira. Eu vou arrastando meus amigos tudo pra lá. Vamos morar na linha verde. Ah, vamos morar na linha verde. Vamos arrastando todo mundo.
Aí quando chegou, eu digo: "Meu Deus do céu, o que é que tá acontecendo aí? Aí, eu acordei hoje, entendi a realidade, né?” É aquele lance que eu falei a você mais cedo. Eh, só em ter um exemplo, a música sendo é, na lista de concorrer para o Carnaval, eu já estou, já fiquei eleito, então do nada uma música que tem mais de 20 anos é um hino para gente.
Entendeu? Vem gerações e gerações, quando falam não sei o que, pô esse menino fala: "Porra, isso aqui, velho, não tem para o meu pai, minha mãe, eu cresci com isso aqui, olha meu". Então quando você vai vendo aqui, por isso que eu digo, nunca é tarde. A gente não sabe o dia de amanhã. Aí está o cara lá com a música falando aquilo, eu não entendia nada do que ele disse, eu só sei que tava [toque de Uisminoufay]. Então eu fiquei felizão, fiquei de vei com uma mulher dessa chega do lado de cá. Aí diz: "Cadê aquela banda tal? Ave Maria".
Ainda brinquei com as meninas lá. “Se um dia acontecer um negócio desse vou sair correndo na Paralela de sunga”. Mas aí eu fiquei muito feliz com esse com essa situação. Tá caindo a ficha ainda aí. É, para muita gente pode ser besteira, para a gente é de uma grandeza imensa, pelo fato de tudo que a gente vem ando, né? De degrau em degrau, inho em inho.
E para a galera que está trabalhando, está entendendo que assim… velho, as coisas estão acontecendo natural. Então é importante a gente abraçar esse momento, né? Aí estou feliz, estou felizão.
Só em pensar na gente já deu lindo demais, já deu lindo. É sinal que eles lá, o automático você vê, que o automático deles pode rodar o que for. Fala do Brasil a vida toda, a música do Brasil, a música da Bahia, principalmente, que os mano faz daqui, da gente.
É essa música para a gente assim, que é uma música temporal que ela tem 20 anos essa música aí. Se você perguntar a galera, a música é de uma forma que ninguém entende a música ainda. Aí falo: "Velho, vocês cantam a música sem entender a música". Na verdade não sou eu cantando para vocês, é vocês cantando para mim. A música só comemora, só faz a onda de festa. Entendeu? “Rapaz, não quero saber não, não sei nem que o cara tá falando, só sei que eu vou”. “Não sei. O cara falou que você é do Japão, Coreia ou do Paraguai.” O cara não sabe, só sei que eu tô ali.
A música fala de dois amigos começando indo para festa. Então, é muito surreal.
Como é para você se manter com a swingueira original?
É saber se respeitar. Eu por eu não é que eu não gosto do bloquinho, ou da swingueira, eu gosto, mas só que é o estilo da galera, não é o meu estilo. Eu tenho seguidores de amigos, de fãs, de familiares que se espelham na minha matéria, na minha pessoa, na banda. Pô, esse som que eu gosto, como é que eu vou mudar? Eu vou acabar com o sonho dessa pessoa também. Então, eu vivo dessa forma. Eu sou… o meu projeto aqui é raiz. Para eu continuar fazendo isso, eu sofri em um certo momento. É o que a gente comentou aqui.
Saí do holofote, tinha outras pessoas no holofote, eu entendi que aquilo ali era um momento de cada um. Eu não entendi que “ah eu não presto”. Eu fiquei… você sente… mas pô, não é um momento de não sei quem, deixa seguir. Mas onde batia um pouco para gente era saber assim: "Ah, mas os caras são ultraados, só isso é que não". Velho, nosso swing não é ultraado, a gente tem swing. Se você disser que eu tô cantando uma música antiga, eu até entendo, mas o swing da gente não é ultraado.
O swing da gente é um swing raiz que é para o resto da vida. O swing que a gente tem é para o resto da vida. O swing que veio novo agora, massa, vai ser para o resto da vida quem tiver uma carreira com essa linha, que seja que nem a do É o Tchan, a do Xanddy com a Harmonia, você vê… Tony Sales, cada um tem seu swing. Eu tenho o meu swing. A galera vai escutar de longe, escutar o cavaquinho Pagod’art.
Então, corria a mim ter paciência, entender, músicos, amigos. Tem que mudar, tem que fazer isso aí de igual. Se você não tá conseguindo acompanhar a nossa linha aqui, aí eu não posso mudar nada diferente, eu não posso imitar ninguém. A minha linha aqui já, se eu tivesse começando a carreira, eu podia estar imitando alguém para depois dali…
Mas, pô, aí já tem uma carreira sólida aqui, velho. Como é que eu vou mudar? Como é que eu vou botar duas guitarras para tirar o cavaquinho, porque não sei quem tá colocando da moda. Massa, a moda dos caras, massa, parabéns. Mas a gente não pode, a gente já tem uma marca aqui, “mas é Beto Jamaica e o compadre Washington”.
Como é que eles vão mudar aquela linha do É o Tchan, a escola que ele fez para a gente? Com bandoleirinho chorando lá, tocando. Eles não podem mudar, se eles mudarem aí, acaba. A gente que tem aquela… vendo aquela história. Então, olha eles até hoje fazendo isso, eles não param. Então aquilo ali, com todo respeito, é o que eu quero para a minha vida. Entendeu? Deixar um legado bom, deixar uma escolaridade musical boa e de uma pessoa boa.
Flavinho não entra em polêmica, Flavinho é um cara massa, um cara tranquilo. A importância de você estar na música É para isso aí também.
Tem alguma dica para esses artistasrecém-chegados no gênero para criar uma marca?
Porque é como você falou, né? Quando a gente escuta o Pagod’art, a gente sabe que é Pagod’art, sabe que é a carreta. E a galera é assim: é o vou começar assim pelo Gueto, né? O gueto, ele em si ele absorve muito do que está rolando do dia a dia. Do que a galera convive.
E, é terror, é barril o dia a dia no Gueto. Só que você chega ali no Gueto que nem eu, no meu tempo, eu cantei música de duplo sentido. Então, a gente cantava, a gente fazia uma história da música, que nessa época ainda… por isso que a gente começou a colocar as Uisminoufay, pôr músicas de brincadeira, de personagem.
Só que essa letra, você quer o duplo sentido da gente, a gente não, dava história. “Já descobri, não precisa me dizer. Não é dor, pois esse grito é de prazer”. Dizer: "Quando grita, você deixa doida, seu homem. Você pediu, eu vou te dar tome. Você quer tome?” Era isso aí, um duplo sentido.
Então, tem situações hoje aqui no gueto tá sentido direto. Então, tá assim... A galera, naquele momento, o gueto necessita daquilo, que eles vivem aquilo ali. O cara que tá no gueto, que monta uma banda, que quer cantar uma música linha correta, o gueto exclui ele dali.
Ele fez: "Pô, eu quero cantar minha música. Montei meu EP aqui, velho. Tudo certinho, uma linha padrão, tudo organizada. Que vai expandir para o mundo”. O gueto não abraçou ele? Ele não vai para lugar nenhum. Até o pessoal do baile, ele tem que cantar primeiramente tudo aquilo ali. Nada contra, mas depois que ele deu o primeiro o… “Velho, eu não quero tocar só no gueto. Eu quero agora tocar em outros lugares, eu quero ir viajar, eu quero tocar em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo”.
Para você tocar nesses lugares, você já tem que ter uma mudança. Você não pode 100% fazer a mesma coisa que você fazia lá no gueto. Aí você vai pegando o respaldo. Tem gente que vem assim. E tem gente que não quer fazer isso. Tem gente que quer continuar desse jeito que tá aí. É uma das coisas. A galera nova, com swing novo, tá todo mundo massa aí.
Mas assim, é contado a dedo quem tá criando uma identidade. Todo mundo com mesmo swing. Se você escutar uma batida aí, você não sabe quem é. “Pô, meu Deus, será que é tal banda, tal banda, tal banda" Aí você tá vendo assim [surgindo] aos poucos… Eu tenho um exemplo para falar de uma galera assim, eu falo de Bruno Magnata. Começo do La Fúria foi atribulado, foi forte, guetão. Chegou um momento que eles começaram a viajar, começaram a entender que nada contra, com uma festa que eu vou no gueto, vocês que necessitam disso, eu vou tocar.
Mas quando o Bruno começou a viajar, entendeu? Ó, o artista que é Bruno hoje. Cara bem-sucedido na música, com família, organizado. Então, a galera do gueto tem que ir, uma vez, eu tô assim, e vir nessa base “Comecei de tal forma, todo dia para mim aprendizado, eu quero fazer isso e aquilo”.
Porque, às vezes, no começo, eles não vão ter essa oportunidade, entendeu? Então, ele tem que cantar de qualquer jeito. Mas depois que pegou uma estrutura, tem alguém querendo ajudar e eles não quiserem mudar, aí já é um pouco difícil, né? É que cada um tem que saber o que quer mesmo.
Vamos falar agora sobre o audiovisual de 25 anos. Já teve lançamento com “Bit do Cavaquinho”, “Mexer, mexer”, teve “Alongadinha” com Xanddy Harmonia, que foi agora recente. O que o público pode esperar mais sobre esse projeto?
A gente também tá esperando; Fica todo mundo ansioso, né? Porque, na verdade, a gente queria soltar tudo de vez. Aí, graças a Deus, por isso que eu tô dizendo que tem que ter uma equipe, né? Porque se fosse por mim, eu já tinha largado tudo de vez, eu quero ver tudo. E aí, o tático do pessoal da Penta [Entretenimento], da assessoria, foi assim: "Não, vamos fazer uma cotazinha de todo mundo, vamos ver como é que vai ser o primeiro o”. E, graças a Deus, o primeiro o assim foi surreal!
Com o “Bit do Cavaquinho”, com “Mexer mexer”, que é a parceria com o Léo [Santana] e com o Xanddy [foi] “Alongadinha”. “Alongadinha” é uma música que eu gosto muito, que eu gosto de coreografia. Só que o que tem o que vem depois daí é muito forte também, porque [o que] Igor Kannário fez nessa gravação, não tá no Gibi. Igor sacudiu aquela casa. Então, tudo isso a gente tem que ver. Lincoln sacudiu aquela casa lá.
Beto Jamaica, a gente tava na gravação, daqui a pouco [a produção] falou: "Flavinho, eu tenho que parar a gravação". Eu olhei para Beto: "E aí, paizão?”, ele: “Posso cantar mais uma aqui?” Há vontade de querer fazer aquilo ali. Sacudiu a casa, então todos fizeram isso, né? Mas eu falo assim, o momento que a gente viveu ali, o que eu vivi ali, eu quero tô querendo que apareça logo para o povo ver isso aí, entendeu? Que a vontade de Rubinho, de Márcio, de Tony, dos meninos fazerem aquele negócio acontecer.
E eles me deram um o surreal, né? Tá com uma seleção daquela ali, só os cabeça, Ave Maria, fiquei eleito, eleito. Eu chego hoje nos lugares, a criança que eu tinha um tempo assim que quando olhava para mim, eu ficava e digo: "Será que sou eu mesmo que tá imaginando que sou eu"? Aí falou: "Ah, Flavinho, eu vou te ver, ó". Aí botava assim o eio e digo: "Meu Deus do céu, a criançada voltou, graças a Deus, obrigado".
É, criança, é idoso, você vai nos shows. O importante do show da gente também é [que] você tem uma facilidade de levar criança, cadeirante, você levar um idoso, você levar e a galera conseguir curtir o show, não tem uma bagunça. A importância de você ir num lugar e zero B.O. é incrível, então é eu tô felizão, eu tô felizão na condição mesmo. Já tem data para o lançamento desse projeto? As meninas já tão na condição ali, mas tem uma datazinha aí que já pode falar mesmo aí.
Dia 2 [de maio], né? Sexta-feira, dia 2, já tem o que vai sair agora três. Tô abençoado, é. Só agradecer, mãe. Vai ser bom.
Vai demorar muito pro público encontrar é conhecer a parte dois, que é com os outros artistas que você comentou?
Não, foi só o começo, né? O começo que teve essa demora para dar uma expectativa, a gente viu a qual seria a sessão das músicas e agora a gente já entendeu que a gente já tá num pedaço que a gente não pode demorar muito também, né? Porque a galera quer ver, um exemplo assim: o fã de Rubinho quer ver a situação dele comigo. Fã de Bruno, fã de Igor, a galera: "Cadê, mutiacho? Só tá falando, já lançou, vai lançar [quando] Rubinho e Bruno?". Aí o fã de Kannário faz: "E de Kannário? Não vai lançar, então"? É esse pedido também é bom para a gente. Então cada detalhezinho desse é um marketing para gente, um nowhow. É o que eu não tinha antigamente, que a gente está tendo uma equipe programando isso, é?
Mais uma vez eu digo, eu estou felizão.
Qual a importância desse projeto para você? De reunir tantos artistas, nomes do pagode baiano em um projeto tão especial que é de 25 anos?
É, começar do zero. É um filho de novo aí, um filho. Você recomeçar sua carreira com 45 anos, fazer um filho desse aí que é um audiovisual esplêndido, porque só tem os melhores daqui. A gente sabe que faltou mais gente porque não tinha mais música para a gente gravar. E os amigos mesmo falaram: "Eu vou, eu vou, eu vou, eu vou". Então, a minha parada aqui é surreal, a gente fica feliz porque todos que vieram deram o máximo. O Xanddy mesmo tava no navio, fez assim. Pô, aí eu digo, quase que não dava nem para Xanddy, nem para Beto. Aí o tempo fez, vou chover.
Aí a gente adiou, foi para a semana da gravação do [audiovisual] de Rubinho também, que deu tempo de vir todo mundo. Aí foi só bem, só aí é um filho para gente isso aí. Não só para mim, como para meus sócios, né? Flávio, Eduardo, eles tão assim, felizes com o projeto, né? Projeto caríssimo, que a gente se virou, é.
Vai de arrancar a cueca, mas a gente foi arriscou, a gente precisava desse investimento. A gente tá aí se virando, vamos pagando, que tudo tem um custo. A galera acha: "Pô, tá lindo aquilo ali, agora vocês não…” Gente, não tem dinheiro ainda nisso aí. O dinheiro só foi pago pra gente montar essa estrutura, montar tudo. E aí, a gente tem que botar o pé no chão em cima disso. Então, fazer show agora para pagar as contas e assim, a gente arriscou uma coisa sem saber se ia dar certo.
A gente tinha uma base, acreditava, mas agora a gente pede show, a gente faz shows para ir amenizando. Agora vamos pagar parcelado isso aí, então, e cada detalhe assim, se a gente faz uma planilha, o valor é tanto. Quando você chega perto do show, de tudo, se era… vou botar um exemplo assim: se era R$ 5, já ou a R$ 8. Você tá aqui, “poxa, já ia comprar só um picolé, pô, já comprou cinco”.
Então, eu tô dando só uma base que se o valor era R$ 4, R$ 4.000, já ou para R$ 8.000, já ou daqui a pouco para R$ 10.000, aí a gente vai assim. Aqueles valores de audiovisual que a galera que é do meio entende o que eu tô falando. E a importância agora é, a importância é de pagar parcelado, né?Vamos se embora, trabalhar e vamos trabalhar e vamos trabalhar e pagando e agradecer porque deu certo o projeto, né?
Tá bonito em si, sobre tocar, se vai pagar, tá pagando. Vamos se virando, mas o projeto em si quem vai assistir vai dizer “pô, a luta deles aí prevaleceu, é, eu tô aqui, tô curtindo, vou divulgar também”. Então, é porque ela tá vendo o carinho, o amor. A boniteza que é aquele projeto. A roupa azul combinando com o céu, sem nuvem, sem nada. Todo mundo que para, que vê aquele visual, todo mundo fica assim feliz.
Então, é um filho para gente aquilo ali.
"Tem muita gente muito boa precisando de um e", afirma Rachel Reis sobre cena musical independente na Bahia
Por Bianca Andrade
In·de·pen·den·te. Adjetivo que revela quem age com autonomia, mantém-se livre de qualquer influência. Na arte, descreve o artista que não tem vínculo com uma grande gravadora, ou editora. No bom e simplificado português: quem, aos trancos e barrancos, caminha com as próprias pernas.
É assim desde o começo para Rachel Reis, de 27 anos. Natural de Feira de Santana, revelação da música baiana com reconhecimento internacional através do Grammy Latino que se tornou paixão nacional com sucessos como 'Maresia', 'Ventilador', 'Motinha', 'Desatei', 'Pelo' e tantas outras canções de uma carreira "recém" iniciada, em 2020, mas que já rende bons frutos.
“Eu fico feliz, eu realmente me emociono quando paro para analisar as coisas. Eu fiz barzinho durante dois anos, de 2016 a 2018. Cheguei, enchi o saco da música, falei que eu não ia mais cantar, queria estudar, queria fazer minha faculdade, hoje eu estou terminando ela. Eu sinto que as coisas se movimentaram, foram acontecendo. É um processo que acontece pedrinha por pedrinha, sabe? Um dia após o outro. Eu tenho essa sensação de que foi pedrinha por pedrinha, mas uma construção sólida que tem me permitido caminhar com os onde eu consiga entender o que eu quero."
Independente por não ter vinculo com instituições, mas não por ter feito o caminho inteiramente sozinha, apesar de ser uma artista solo.
Ao longo da trajetória rumo ao estrelato, Rachel faz questão de mencionar aqueles que a auxiliaram nessa caminhada, desde os amigos que imploraram para a artista deixar a timidez de lado e se soltar nos palcos, aos músicos que acompanham a cantora nos shows ao redor do país. São eles Cuper, Zamba, Tomaz Loureiro, Beatriz Sena, Tainã Troccoli e o público, que soma mais de 680 mil ouvintes mensais no Spotify e enchem os shows, vide o Canto da Sereiona, realizado nesta sexta-feira (20) em Salvador, que teve os ingressos esgotados e já tem segunda edição confirmada para 2025.
Independente por ser sozinha, mas caminhando junto, Rachel Reis celebra a caminhada não só dela, mas de toda cena independente baiana. "Eu me sinto muito feliz e orgulhosa de fazer parte disso, acho que a cena está muito bonita, tem gente de todos os lugares, de todos os estilos, de todos os ritmos. Eu gosto desse laço que se construiu por um motivo, porque a gente é fã do outro, porque a gente gosta de trabalho um do outro e não porque é bonito, porque vai sair bem na fita".
Rachel Reis foi a convidada do BN Entrevista de dezembro e bateu um papo sobre carreira, cena musical independente na Bahia, vida fora dos palcos e quais serão os próximos os na carreira. Confira a entrevista completa:
Rachel, você lançou o primeiro single dessa sua nova era, que é o ‘Ensolarada’, e eu quero saber como tem sido para você trabalhar essa nova Rachel Reis?
Tem sido uma experiência muito interessante de ser vivida essa construção desse álbum. Eu acho que todo artista tem essa coisa do, esse próximo é o que eu mais amo, é porque não tem jeito. Eu estou muito feliz com a construção dele, desde o início, por ser o último projeto que venho trabalhando nos últimos tempos, que naturalmente acontece com um pouco mais de maturidade, um pouco mais de empenho, um pouco mais de visão. Uma visão mais madura, então, ele tem sido ali do jeitinho como eu quero que ele seja. É um álbum onde eu continuo batendo ali sobre o amor romântico, uma das linguagens que eu gosto de trabalhar e que permeia tudo. Eu vou vir trabalhando um pouco mais sobre mim, sobre meus sentimentos. Ele já tá para sair, já estamos ali nos 99% do projeto pronto e estou doida para jogar no mundo.
Raquel, você falou que não tem esse problema em relação a fazer muitos feats, e percebo também que você busca fazer esses feats com artistas da cena independente. Teve com o Filho de Jorge, você já colaborou também com o Yan Cloud e eu quero saber de você, isso da cena independente. Eu vejo que tem uma força muito ali entre os próprios artistas de estarem se apoiando, de estarem um colaborando com o outro, um dando essa força ao outro? Como você analisa a cena atualmente?
Eu acho que tem uma cena muito bonita. Sou uma pessoa de Feira de Santana, eu gosto de bater nessa tecla de que existe arte, existe movimento também nesses lugares. Fico feliz de estar aqui, de morar em Salvador e de poder ser pertencente e abraçada pela cena daqui também. Eu sinto orgulho de permear, de conseguir ter parceria com o Yan, de trabalhar com Filhos de Jorge, Murilo Chester, e vejo esse movimento dessa galera crescendo muito, da gente ver a música chegando em outros lugares. A gente vê uma cena composta muito por pessoas pretas alcançando novos lugares, e eu me sinto muito feliz e orgulhosa de fazer parte disso, acho que a cena está muito bonita, tem gente de todos os lugares, de todos os estilos, de todos os ritmos.
Só em Feira de Santana tem eu, Duquesa, Russo apulso. Aqui tem uma galera incrível, gente que eu conheço e que sou fã. Então, eu acho que tem se formado uma cena muito bonita, que está sendo abraçada. E essa união é totalmente natural. Eu gosto dessa coisa de tipo, esse laço se construiu por um motivo, porque a gente é fã do outro, porque a gente gosta de trabalho um do outro e não porque é bonito, porque vai sair bem na fita.
Uma outra coisa também, e aí eu acho que é uma opinião minha, como uma pessoa que consome música e que ira a música baiana, eu vejo muitos artistas da cena independente conquistando o Brasil, não com uma certa facilidade, mas a gente percebe, por exemplo, que o eixo Rio-São Paulo consome bastante os artistas daqui, e a gente percebe vocês na line-up de festivais grandes, como Coala, como Rock the Mountain. Queria saber de você, como uma pessoa que gosta de música, o que você acha que falta para a gente ter eventos aqui em Salvador, a eventos aqui na Bahia, com esse tamanho de colocar a cena independente no holofote total?
É um negócio para se pensar realmente. Essa festa tem sido construída toda do zero, e aqui pela gente, a nossa força de vontade, a construção da nossa equipe, de fazer o rolê acontecer, da minha equipe. Eu fico vendo essas movimentações também, a Bahia é super falada, super consumida. A gente tem que ter esse cuidado de observar como é que acontece, né? Porque às vezes acontece muito de consumirem muito a gente, estigmatizarem a gente. Então, isso é um movimento que a gente tem feito por si só, de levantar as nossas próprias festas, de correr atrás, de conseguir ser aceito dentro dessas festas e desses espaços. Mas eu acho que você como consumidora e eu como artista também tenho essa visão de que as coisas precisam ser um pouco melhores observadas.
O que está rolando? O que essas pessoas precisam? Como é que a gente faz para juntar essa galera toda num só lugar e para deixar essa voz bem mais forte? Eu acho que isso é um senso geral. Tem muita gente muito boa fazendo tudo do zero, precisando de um e. Reclamam muito às vezes comigo,’Ah, porque você não faz X, não faz Y, porque você não tá não sei aonde’. Porque tem que me chamar, a galera tem que me chamar, entendeu? A gente não pode chegar na praça e bater a, entendeu. A gente tem que levar uma banda, a gente tem que levar e. Eu tô sempre aberta a participar dos eventos, eu tô sempre aberta a participar de tudo, só que a gente sozinha, não pode fazer. Então, eu acho que tem que rolar esse olhar com mais cautela, com mais cuidado, porque está se formando, porque está sendo construído. Tem muita gente boa. Eu fico besta com a forma como a cena baiana cresce e se destaca. E muitas vezes ali, sozinha, por uma força da gente, uma força dos artistas, uma vontade de fazer o negócio acontecer. Eu acho que falta esse olhar mais cauteloso.
Você já falou em entrevistas que tem pouco tempo de carreira para o público, que vem de uma família de música e sempre fala da sua mãe. Com o pouco tempo de música para o público geral, você já tem essa notoriedade, é reconhecida pela crítica, já foi indicada ao Grammy, já teve música em novela, em seriado. Eu quero saber como você se sente, tendo tão pouco tempo e conquistando tantas coisas, e com tanto ainda por vir.
Eu fico feliz, eu realmente me emociono quando paro para analisar as coisas. Eu fiz barzinho durante dois anos, de 2016 a 2018. Cheguei, enchi o saco da música, falei que eu não ia mais cantar, queria estudar, queria fazer minha faculdade, hoje eu estou terminando ela. E quando eu tive esse start de gravar as minhas primeiras músicas, além de 2020, foi só esse primeiro estalo de juntar o dinheiro, gravar e me jogar nisso, eu sinto que as coisas se movimentaram, foram acontecendo. É um processo que acontece pedrinha por pedrinha, sabe? Um dia após o outro. Eu tenho essa sensação de que foi pedrinha por pedrinha, mas uma construção sólida que tem me permitido caminhar com os onde eu consiga entender o que eu quero, entender o que eu não quero, entender as minhas movimentações ali de uma forma muito tranquila. Então, eu fico muito feliz quando eu faço esse panorama de tudo que aconteceu. Eu tenho conseguido viver da minha música, viver das minhas composições, trabalhar com as pessoas que eu gosto, trazer para junto pessoas que eu gosto para poder trabalhar comigo também, dar e para as pessoas que eu amo.
Foto: Divulgação
Rachel, surgiu uma dúvida na redação de uma pessoa que te ouve, mas não sabe qual gênero musical você se encaixa. Tem muito de artista não querer colocar, se encaixar em um gênero, ter um rótulo. Eu quero saber, qual gênero musical Rachel Reis se encaixa atualmente.
Olha, eu não tenho nada contra o gênero alternativo, inclusive eu adoro. Eu uso muita música alternativa. Eu acho que isso ficou um pouco aberto. Hoje a gente tá na era do streaming, tudo é muita coisa. Falta o significado, ao mesmo tempo, tem muito significado. Hoje eu me considero uma pessoa sem um rótulo. Não me considero uma pessoa com gênero específico, inclusive eu acho que é uma das coisas que faz com que muita gente, todo tipo de gente consome a minha música. Eu acho muito engraçado quando eu abro os stories que eu vejo a marcação, eu vejo emo, eu vejo roqueiro, eu vejo pagodeiro, eu vejo de tudo, idoso, criança, tudo consumindo minha música, eu acho isso muito interessante. Acho que hoje se junta o fator da gente viver nessa época do streaming, onde tudo chega para gente muito rápido, muita informação, ao mesmo tempo, em que eu sempre tive, sempre fui atenta, sempre gostei e tive curiosidade em escutar de tudo, em pesquisar de tudo.
Você falou sobre ouvir um pouco de tudo quando era criança, disse que consumia muito trilha sonora de novela e eu quero saber qual foi a sensação que você teve quando ouviu sua primeira música na novela.
Quando rolou da primeira música entrar em trilha sonora, eu chorei. Quando eu vi ando, eu estava viajando, fazendo show, e aí estava no hotel e ou a chamada assim. Aí eu e o Fernando, meu produtor, com a boca deste tamanho, chorando. Porque é isso, a gente cresce assistindo novela, nossa família, nossos parentes, nossos amigos, meu pai, no horário certinho, ele ia bater o ponto dele, enquanto essa música não tocou, no capítulo, este homem não teve paz, ele não teve saúde, todo dia ele me mandava mensagem, é hoje que vai tocar, dona Rachel?
E a primeira vez que você ouviu sua música na rádio?
Eu acho que eu estava num Uber e aí tocou ‘Ventilador’, [eu falei] sou eu aí moço, sou eu que estou tocando. Filmei na hora, foi um sentimento único ouvir a música tocando na rádio pela primeira vez. Não acostuma vez ou outra, eu tô em carro e tá tocando e eu quero dizer a ele que sou eu, mas me seguro. A gente vai aprendendo a se conter, vai aprendendo a lidar, né? Mas não acostuma.
Além dessa questão do rádio, tem a questão dos palcos também. Você começou a carreira em um momento que a gente não estava tendo show por causa da pandemia, então acredito que teve aquele tempo de adaptação e de se apresentar no palco. Hoje ainda é toda aquela pressão. Como você faz para controlar?
Eu fazia o barzinho [no começo da carreira], a galera não se importava, todo mundo bebendo, comendo, então a responsabilidade era um pouco menor. Quando eu comecei a lançar o meu autoral, que começaram a rolar os shows, os festivais, eu não tinha nenhuma noção do que eu estava fazendo, eu sabia que um povo ali gosta da minha música, então, eu ia ali cantar e entoar sons. Eu não sabia que tinha que ter uma comunicação com a galera, que eu precisava dar um e. Eu ia lá, pegava o microfone, literalmente só cantar, e não queria falar nada com ninguém, bom dia, boa noite, tchau, e ir embora. Eu fui pegando essa noção de que tá, eu estou indo fazer show, é palco, as pessoas estão lá, elas esperam uma interação minha, elas esperam algo de mim, elas querem me conhecer, preciso entregar isso para elas, aos poucos. Hoje em dia eu adoro estar no palco, eu adoro trocar com eles, eu adoro ver eles cantando as músicas, adoro brincar, adoro interagir. Mas foi um processo muito lento, porque de cara eu já caí em grandes palcos.
Para quem te acompanha realmente dá para notar que você desabrochou ali no palco. Você tava falando que sempre foi muito tímida e que você faz o possível também para poder manter a sua vida pessoal fora dos palcos, como você está tratando com isso?
Eu sempre me considerei uma pessoa reservada, de 2016 para cá, eu fui ficando bem low-profile no meu Instagram, quase não postava muita coisa. Tenho começado a postar mais, a interagir mais, porque a galera cobra, e eu sinto que eles estão certos, tipo, eu sou fã de Jorja Smith, por exemplo, ela não posta nada, eu fico adoecida, porque eu não sei o que ela faz, eu não sei onde é que ela anda, eu não sei. Soube até que parece que ela teve filho, ninguém sabia, eu não sabia disso. Eu fiquei chateada, então eu consigo entender que eles fiquem, "cadê?", "apareça mais". Vez ou outra, eu gostava ali de brincar no Twitter, né? Brincalhona, tuiteira, geração tuiteira, eu sou dessa geração. E aí as pessoas começaram a falar ‘Ah não, você é uma estrela. Não pode brincar. Uma estrela’. E eu, poxa gente, mas eu sou dessa geração também, eu sou twitteira. Eu parei um pouco mais de brincar. Eu também comecei a ficar sem tempo, comecei a ficar sem paciência. Mas cada vez mais eu tenho entendido uma forma de me comunicar, de mostrar para as pessoas que me acompanham, que gostam de mim, quem eu sou, ao mesmo tempo que eu reservo esse espaço que é meu, que é pessoal.
Foto: Jasf Andrade
Rachel, você se apresenta no Carnaval, mas se apresenta em palcos, e as suas apresentações sempre são muito esperadas. Queria saber se você tem essa vontade de puxar um trio elétrico, mas assim, um circuito inteiro também.
Olha, eu tenho essa vontade, eu sou uma pessoa que irei muito os trios arem, sempre achei isso incrível e acho que isso influência hoje nesse rolê de ser essa pessoa que consome de tudo. Eu acho incrível a galera que consegue ter esse pique de fazer esse projeto. Vejo Baiana System fazendo isso de uma forma espetacular, eu iro muito Daniela, Ivete, eu acho isso incrível, eu gostaria de fazer, eu não sei se eu vou ter o pique.
Vou pegar uma resposta que você deu para poder fazer essa pergunta. Você falou que você quer estar em muitos lugares, mas que sozinha você não pode. Que é um pouco impossível para quem é artista independente conseguir se colocar em qualquer lugar. Mas eu queria saber se você sente falta de espaços aqui em Salvador e também na Bahia, porque a gente não pode falar só de Salvador, para poder se apresentar e para poder receber essa galera da cena independente.
Eu sinto falta. Eu fico olhando muito ali pelo meu visor de quando eu comecei. Os espaços que eu encontro aqui são feitos de uma forma muito independente. Eu sinto que eu tenho um pouco de sorte também, de alegria. De, por exemplo, no Carnaval, eu tenho que olhar onde é que eu vou cantar. Eu tenho tido a sorte de encontrar espaços onde eu possa me encaixar, mas eu sinto que rola o vazio. Eu conheço muitos artistas muito talentosos, extremamente talentosos, são pessoas encantadoras, e que eu sinto que poderiam fazer mais coisa, estar em outros movimentos, então eu acredito que isso role muito. Muitas pessoas me questionam porque você não vem fazer coisa aqui, porque você não está por aqui, isso é uma coisa que foge do nosso alcance. A gente precisa de uma estrutura, a gente precisa de uma banda, a gente precisa pagar uma banda, a gente precisa pagar a equipe que está inteira ali atrás da gente voltada para que essas coisas aconteçam. Então, isso acaba que fica um pouco fora do nosso alcance. Eu acho que rola mesmo um certo distanciamento ali que atrapalha e que a galera se movimente.
Foto: Luan Martins
Raquel, para finalizar, você já teve música e novela, você já foi indicada ao Grammy, você tem várias parcerias, mas eu queria saber, no sonho de Rachel Reis, qual é a parceria que você sonha que ainda não está no seu catálogo e qual espaço você também gostaria de estar?
Eu adoraria ter uma parceria com Jorge Ben. Tem muita gente que eu queria fazer, mas nessas horas me dá um branco sabe na hora. Tem muitos palcos que eu gostaria de fazer ainda. Eu tenho uma vontade de rodar tudo, assim, sabe? Pelo Brasil. Tive a experiência de fazer a minha primeira turnê esse ano, que foi muito especial também, mas voltei com mais vontade ainda de fazer mais coisas pelo Brasil. Tem muitos lugares que eu posso chegar, que minha música pode chegar, de gente que não faz ideia que eu existo, então eu tenho essa vontade de rodar muito. Quero fazer muitas parcerias ainda amo Jorge, Vanessa da Mata, Caetano, Gil.
E hoje a gente tem uma Raquel realizada, a Raquel artista que começou no meio de uma pandemia e hoje já conquistou o Brasil. Você se considera realizada quanto artista e também quanto pessoal?
Eu me considero muito realizada. Acho que as coisas acontecem da forma como elas têm que acontecer. Sinto que tudo se encaminha para o jeito como tem que ser. E eu fico muito feliz quando eu vejo minha caminhada, quando eu vejo as coisas que eu tenho projetado e tudo que já aconteceu. Eu acho que cada vez mais eu tenho esse sentimento de que é uma coisa após a outra, né? De modo geral, na vida pessoal, na carreira, eu me sinto muito tranquila.
"Eu não preciso de rótulos, eu quero falar minha verdade", afirma Vina Calmon em desafio na carreira solo
Por Bianca Andrade
Por dez anos, o cheiro que ficou no ar para Vina Calmon foi o de amor. A pernambucana, nascida em Santa Maria da Boa Vista, assumiu o compromisso de estar a frente de uma das maiores bandas da Axé Music, a Cheiro de Amor, que fez com que a artista realizasse um dos maiores sonhos da vida, além de ficar conhecida nacionalmente pela música, impactar positivamente pessoas com a própria arte.
Em 2024, Vina decidiu mudar a fórmula do perfume e escolheu um novo cheiro para chamar de seu, o perfume próprio. Ao fim do Carnaval, a cantora anunciou o fim da parceria com o Cheiro e anunciou a carreira solo, como integrante do casting da Salvador Produções.
A saída, marcada por mistérios por um fim quase inconclusivo para os fãs, sem a sonhada despedida, deu a força necessária para que a "pernambaiana" investisse ainda mais na própria carreira afim de deixar a própria marca, que mistura um pouco de toda trajetória da artista na música.
Ao Bahia Notícias, Vina Calmon abriu o coração durante a entrevista para falar sobre a nova fase da carreira, as dificuldades como uma mulher na música, a saída do Cheiro, os maiores sonhos da carreira solo, e não conteve a emoção ao falar sobre a família, porto seguro da artista e principais fãs. Confira a entrevista completa:
Foram 10 anos de Cheiro de Amor e fica aquela dúvida, qual, para você, foi o momento da virada de chave para decidir seguir na carreira solo?
Aconteceu com muita naturalidade, né? Eu ei 10 anos à frente do Cheiro e com o ar do tempo comecei a idealizar algo sobre minha carreira solo. Uma sementinha foi plantada em algum momento ali, começou a me despertar a vontade de criar essas asas e daí foi acontecendo mesmo. Eu percebi que eu estava num momento de dar mais um o na minha carreira.
Vina, você não é baiana, mas a gente já disse que você tem essa alma baiana. Além de cantar o Axé, você também teve um período no forró, eu quero que você fale um pouco sobre essas suas influências na música até construir a Vina Calmon que hoje se apresenta como artista solo.
Eu vim para Bahia muito novinha, vim morar aqui há cinco anos de idade. Então eu já tenho essa baianidade de alma também até porque a Bahia me acolheu de braços abertos. Eu vim cantar aqui e já vim para cantar na Banda Xerife, e depois que eu fui pro Cheiro, então já tenho já tem uns aninhos a aí sendo acolhida pela Bahia e já me considero sem sombra de dúvidas baiana.
Você fala que você tem esse é esse esse apego, esse carinho pelo Axé há muito tempo, mas também tem o forró, que se apresenta em algumas das suas novas faixas. Então me fala um pouco sobre essa construção de artista.
Eu comecei a cantar muito nova, com 10 anos de idade. Então a ali foi onde tudo começou em Sobradinho. Inclusive, eu comecei a cantar num grupo do meu ex-padrasto e ele é me deu uma oportunidade de começar a cantar lá pelo por incentivo de minha mãe, minha mãe sempre acreditou desde quando eu era cantora de banheiro. Eu comecei a ouvir e eu ouvia muito forró, e posterior à isso eu fui cantora de MPB, cantora de barzinho que canta de tudo, era uma banda baile onde eu pude aprender muito sobre o que é música, tive grandes referências, como Marisa Monte, Caetano Veloso, mas também amo Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Cheiro de Amor, Banda Beijo. Eu sempre tive isso comigo sempre quis vir pra Salvador, inclusive cresci ouvindo 'essa menina tem que ir para Salvador', mas eu não tinha expectativa de vir para cá porque minha família não tinha condições de me bancar, eu tive realmente que meter as caras.
Vina, eu queria saber se você teve algum medo quando você foi dar esse o, do tipo 'Ah, ei tanto tempo dentro dessa caixa e agora eu vou me permitir cantar outras coisas cantar o que eu gosto'.
Dá aquele frio na barriga, mas eu sempre tive a certeza de que eu, fazendo a minha verdade, não tem como dar erro. E é sobre isso sem paranoias, eu acho que não precisa de paranoias, até porque com muita lucidez eu posso dizer que vão existir pessoas que não vão gostar, mas é independente de estilo e tá tudo bem também, mas eu sei também que vão existir pessoas que vão gostar. Eu sei que vão existir pessoas que vão gostar muito isso para mim importa.
E agora na carreira solo você acha que essa mistura que você sempre ouviu é meio uma definição do que você canta?
Eu gosto de cantar, isso é um fato [...] Eu acho que a música é sem fronteiras, não precisa de um DDD para ter um estilo musical porque nós temos a internet, a velocidade da internet a nosso favor, então a gente alcança o mundo inteiro. Eu não preciso de rótulos, eu quero falar minha verdade.
Nessa sua nova jornada com carreira solo, uma coisa me chamou atenção nas duas músicas que você lançou, 'Beija Eu' e 'Sinasi', é que a letra vem falando sobre relacionamento. Eu queria saber se nessa nova fase você vai seguir a linha Conselheira Amorosa, se também vem um pouco, de como o pessoal diz, de fuleragem nas letras.
A priori, nessas músicas eu venho falando sobre é a potência da mulher e as suas vulnerabilidades. A gente precisa entender que a gente tem sim as vulnerabilidades, enxergá-las, mas também busca superá-las e começar a se enxergar de dentro para fora, a mulher potente que existe ali em nós porque. Eu quero falar disso para a mulherada, mas também vem a fuleragenzinha, óbvio, quem não gosta de uma sacanagenzinha não é? É a dancinha, a diversão, a alegria. Eu quero, de coração, que a minha música chega até você de uma forma positiva, de uma forma alegre.
Você está recomeçando uma carreira, agora como artista solo. Eu quero saber quais foram as dificuldades que você encontrou nesse primeiro momento.
Não é fácil, é um momento é essa construção começada praticamente do zero, porque eu trago comigo a experiência de tantos anos aí na estrada, porém, eu tenho que começar do zero, quer queira ou não. Requer muita paciência, mexe muito com o nosso emocional, mexe com psicológico, mas eu entendo que isso aqui é a minha vida, não é à toa que eu canto desde os meus 10 anos de idade. Quando eu tô muito aperriada eu começo a pensar eu olho um pouquinho para trás e eu olho e faço uma reflexão sobre como foi a minha história lá atrás e onde eu estou agora. Então, apesar das adversidades, eu tô aqui. Isso é além do sonho porque eu tenho o meu sonho, todo artista quer estourar, mas eu lhe digo com muita propriedade que para mim isso aqui vai além e independente de qualquer coisa eu vou continuar trabalhando.
Vina, uma coisa que eu acho que é importante deixar claro, é que sempre que acontece esse movimento de saída de banda, o pessoal começa a especular se houve alguma intriga, mas eu acho justo e acho válido até para você também deixar claro, mais uma vez, como foi que aconteceu essa sua saída do Cheiro e esclarecer se houve alguma briga.
Está tudo na paz. O processo de mudança, obviamente não foi fácil, mas não tive nenhum problema de briga. Eu fui a primeira a falar 'não vou brigar com ninguém, não adianta que eu não vou brigar' e assim eu fiz. Não fui instigada a isso. Quando eu comuniquei com meus antigos empresários, eu chamei para que pudéssemos trazer eles para a sociedade também, convidamos, mas a negociação não progrediu. Foi a escolha deles também, porque de alguma forma não seria bom para eles. Mas não fui maltratada em momento algum.
Você ou anos em cima do trio, fez a estreia da carreira solo no Fortal, eu queria saber se você já faz planos para o Carnaval de Salvador e se vai voltar para a festa
Abandonar o Carnaval de Salvador, jamais! Porque quem bebe dessa água não esquece. É incrível, né? Que momento mágico que coisa linda e só quem tá ali consegue sentir aquela energia. Vamos continuar trabalhando para estar sim no Carnaval de Salvador, com certeza. Meu Carnaval, já está bem encaminhado, graças a Deus.
Vina, para finalizar, eu quero saber de você ao longo de todos esses anos de carreira, quais foram os momentos mais marcantes para você.
Minha filha o meu primeiro palco foi um palanque, era no carro do lixo lá na cidade. Eu nunca esqueci, eu sonhava tanto em ser cantora, eu não queria saber de dinheiro, na época, quando eu ganhava era R$ 5, mas eu lá queria saber do dinheiro, eu queria era cantar. O show era eu, um senhor que era o tecladista, e outro cantor. Eu era tão tímida, que eu só cantava. Eu morrendo de vergonha com uma sainha branca emprestada, eu nunca esqueci desse dia.
O segundo momento, para mim, foi a gravação do DVD no Dique. Foi um momento lindo emocionante, porque além de eu estar à frente, assumindo uma banda tão renomada eu estava também com minha família toda ali pela primeira vez no meu show. Eu pude ver a minha avó lá. Ela não saía de casa para nada, tive meus tios do Rio de Janeiro, de São Paulo, pessoal do interior veio todo. Vovó sempre foi bestinha comigo, ela tinha uma camisa que tinha minha foto de uma das bandas que eu cantei quando eu era do forró, e até os últimos dias dela de vida eu vi minha avó vestida na minha camisa.
Então, eu vou seguir trabalhando, eu sei que existem as adversidades, mas eu vou seguir porque não é fácil, não foi de paraquedas que eu cheguei até aqui foi com muito trabalho e eu vou continuar firme.
Melly comemora sucesso de ‘Amaríssima’ e estreia de turnê em Salvador: “Nunca imaginei”
Por Laiane Apresentação
Com mais de 270 mil ouvintes, Melly, de 23 anos, é dona de uma curta, porém notável discografia. Na cena musical desde 2018, a cantora, compositora e produtora - além de estudante de Direito - conquistou o público brasileiro com suas canções melódicas e poéticas e ganhou, em 2023, o Prêmio Multishow na categoria Artista Revelação.
Acumulando trabalhos recentes com artistas veteranos como Saulo Fernandes, Russo apusso e Liniker, Melly lançou em maio deste ano o seu primeiro álbum, “Amaríssima”, pelo selo Slap, da gravadora Som Livre, e um curta-metragem homônimo inspirado nas canções que compõem o disco. Três meses depois, nesta sexta-feira (30), a artista fará sua estreia com a turnê do álbum na praça Quincas Berro D’Água, no Centro Histórico de Salvador, em um show que teve os ingressos esgotados três dias após o começo das vendas.
Ao Bahia Notícias, a cantora contou sobre sua evolução profissional, bastidores da produção do álbum e suas expectativas com a estreia do álbum e sua participação no festival AFROPUNK Salvador 2024. Confira a entrevista completa:
Muita coisa aconteceu entre seu primeiro trabalho e seu trabalho mais recente, incluindo trabalhos com Saulo Fernandes, Lazzo Matumbi, Russo apusso… A Melly que se encontra aqui hoje, no Bahia Notícias, é a mesma de três anos atrás? O que mudou?
Definitivamente não. Eu acho… Eu tenho certeza que hoje eu me reconheço como parte da música, como artista, como uma pessoa que almeja viver disso e que vê futuro nisso. Antes eu fazia música porque música sempre foi o meu diário, a minha forma de expressar meus sentimentos. Eu sempre fui uma pessoa muito tímida, uma criança muito fechada e eu só conseguia dialogar sobre tudo o que estava querendo aprender, tudo o que eu conhecia, na canção, no violão, ali tocando. Então sempre foi meu sentimento verdadeiro, sempre o que eu gostava de fazer, por gostar. Mas eu estudava, eu faço faculdade - como eu te disse -, comecei a fazer Direito, não morava aqui em Salvador, morava em Natal. Eu tinha outra vida, completamente diferente, e aí depois que lancei “Azul”, as coisas simplesmente aconteceram de forma incontrolável. Eu não fazia a menor ideia de onde minha música poderia chegar. E acabou chegando, né? Eu conheci todas essas pessoas maravilhosas que você falou, conheci Saulo, lá no início também ele escutou “Azul” e gostou. Liniker também veio nessa, Russo também me presenteou com um amigo… Hoje eu tô totalmente diferente.
O ‘Amaríssima’ marca essa mudança na sua carreira. Ele fala sobre amadurecimento, mas também fala sobre seus relacionamentos. O crescimento profissional transbordando no crescimento pessoal, nos relacionamentos que você já viveu?
Assim, eu comecei muito nova na música. Aquela canção que você falou que gostava, ‘Nêga’, eu lancei quando eu tinha 17-18 [anos], e desde então eu comecei a fazer shows, a conhecer pessoas, a adentrar mais na carreira da música assim e eu me percebi amadurecendo forçadamente, né? Trabalhando ali com aquela cabeça de criança ainda, tendo que gerenciar uma carreira, tendo que pensar em como que eu me veria no futuro. ‘O que eu quero fazer daqui a 5 anos? Eu só tenho 17, mas como é que eu quero estar daqui a 10 [anos]? Como eu é que eu quero estar daqui a 15 [anos]? Eu vou continuar na música? O que é que eu preciso fazer?’. Enfim, minha cabeça foi envelhecendo, eu fui ando por muitas situações desconfortáveis e chegou um momento que eu tinha até perdido um pouquinho do apreço assim à música porque você acaba se decepcionando com como as coisas são no meio adulto, mas faz parte. ‘Amaríssima’ é o meu entendimento de que faz parte a gente ar por essas situações não tão confortáveis, essas coisas adultas… Esse café que a gente precisa aprender a gostar, a cerveja que a gente toma socialmente, o término que a gente tem que ter com alguns ciclos para poder começar outros, a saudade que a gente tem que sentir de alguém para poder selar aquele abraço quando a gente se encontrar, ser maravilhoso… E eu quis compor uma história sobre esse sentimento, né, e acabou, sim, permeando as minhas relações também. As minhas relações amorosas, minhas relações fraternas, minhas relações de amizade. Tudo relacionado.
E como tá sendo para você o recebimento do público com ‘Amaríssima’?
Como tá sendo? Rapaz, tá sendo incrível. Tá sendo massa. Eu não achei que fosse ser tão massa assim porque ‘Amaríssima’ é muito diferente de ‘Azul’. ‘Azul’ também eu era mais inexperiente, eu estava com saudades da Bahia - porque eu morava em Natal - e eu quis compor uma homenagem pra cá [Salvador]. Eu estava saudosista. Então ‘Azul’ virou esse sentimento de ‘Meu Deus, eu preciso revisitar as minhas raízes’. E aí falei muito sobre Bahia e eu atraí muito o público da Bahia e da galera que também é curiosa pelo que a gente faz aqui, pela cultura que a gente tem. Então eu fui mais no pagodão, que eu sempre gostei de ouvir, sempre gostava, fui mais em coisas que eram mais regionais. Nesse disco [Amaríssima] eu quis me alastrar na música mesmo, mostrar o que eu era capaz de fazer e experimentar. E eu fui para outras vertentes. Eu achei que o meu público não fosse se interessar tanto por essas que eu acabei criando, essas coisas novas que as pessoas não tem o costume de ouvir o tipo de música que eu faço. Eu achei que não ia ser bem recebido, mas a galera tá gostando. Eu só vejo bons comentários. As pessoas só vem falar comigo que iram o esforço que eu tenho feito para transformar a música também, não ser igual, fazer coisas que façam sentido.
Você que cunhou um novo gênero musical novo, o “R&Bahia”?
Mais ou menos. Tem uma galera que já fazia isso também aqui na Bahia. Àttooxxá também é muito R&B, sabia? Àttooxxá vai muito, nesse… Principalmente porque Raoni [Knalha], as referências de Raoni, que é o vocalista, né? Um dos vocalistas, na verdade, junto com Oz, e, às vezes, Rafa também canta. Ele [Raoni] tem muita referência de Black Music, então quando eu escutava Àttooxxá, eu já via esse melindre na voz dele, esse caminho melódico que já caminhava também pro Ritmo e Blues [R&B] que eu peguei e mudei a denominação pra virar R&Bahia. Não fui eu quem comecei, não.
Como você explica esse termo para as pessoas que não conhecem?
Então, a minha influência principal é o R&B, Rhythm and Blues, que é um gênero norte-americano, mas que já participou e já eou aqui na música brasileira em diversas outras referências que eu também tenho, de artistas nacionais. Djavan, às vezes, é muito R&B… Gil também, muito Black Music, muito R&B… Enfim, já tinha isso aqui, já tinha esse Soul, Tim Maia, Tony Tornado, eu já tinha essas referências daqui e, aí, quando eu vou explicar para alguém o que eu faço eu falo, na maior parte das vezes, que eu canto pop, música popular brasileira, com influências dos gêneros que eu mais gosto, R&B, Soul, Black Music, Pagodão… Tudo que tem aqui na Bahia também que me ajudou a crescer.
Falamos sobre suas experiências com outros artistas e eu queria saber como foi para você compor e trabalhar junto com Russo apusso [BaianaSystem] em ‘Rio Vermelho’?
A minha história com Russo é engraçada porque eu não lembro como foi que começou, eu não lembro onde foi que eu conheci esse cara. Depois eu vou perguntar a ele onde foi que a gente se conheceu, onde foi que a gente se bateu, onde que a gente trocou contato assim… Como começou tudo mesmo, porque ele parece tão familiar na minha vida agora, parece uma pessoa que eu já encontrei em algum momento, em alguma outra vida, talvez, que a gente se bateu assim e rolou uma sinergia massa e ele me deu a chave do estúdio dele. Ele pegou a chave do estúdio que ele tem no Rio Vermelho, com Baiana, e aí disse assim ‘Poxa, Melly, quando você quiser ir lá, apareça’. E eu peguei a chave e fiz ‘É mesmo, Russo? Você quer que eu vá mesmo pra lá?”, e ele ‘Não, de boa, pode ir’. E eu fui. E a maior parte do disco [Amaríssima] foi feita ali. Eu também trabalho muito de casa, eu tenho um home studio em casa, eu produzo em casa também, mas é bom ter um espaço pra gente encontrar pessoas, não convidar para seu quarto. Às vezes convidar alguém para sua casa não é tão legal assim, é melhor que seja num espaço apropriado para isso. E Russo me deu essa oportunidade, ele tava lá todos os dias também, escutando as canções e dando dicas e conselhos, referências… Muitas vezes eu ficava sem direcionamento nas músicas assim, porque a gente acaba se escutando muito, né? E como eu participo, faço questão de todos os processos, acaba que o ouvido vicia e que a gente acha que está tudo ruim, acha que não está legal, mas Russo estava lá para falar ‘Não, Melly, escuta isso aqui, bota essa parada aqui. E aí, um belo dia, eu tinha feito uma música no violão, na pandemia, e lembrei dessa música. O nome da música era ‘Deixa’ e eu comecei a produzir. E eu produzindo não tava achando o lugar para aquela música chegar, não sabia se era Reggae, não sabia se era Bossa Nova… Eu tinha composto em Bossa Nova, no violão, mas tudo que eu faço no violão também é MPB. Enfim, quando eu ei para produção eu não sabia que caminho seguir, aí eu mostrei para Russo, fiz ‘Russo, vê se você gosta dessa música aqui. Qual caminho você acha que é?’ e ele falou ‘Não, rapaz, essa zorra aí é Samba Reggae, a gente tem que explorar o Samba Reggae’, aí ele pegou, meteu um verso e a gente confluiu tudo e construiu junto a música. E saiu ‘Rio Vermelho’. ou de ser ‘Deixa’, para se tornar ‘Rio Vermelho’.
Então tem um pouco de Russo em cada um dos singles?
Tem um pouco de Russo em tudo ali. Ele escutou tudo, participou de tudo. Foi um parceiro. É um parceiro para vida. Ainda bem. Um beijo, Russo.
E essa troca de experiências, além de Russo, com outros artistas que você trabalhou, você abriu show pra Luedji Luna e para outros também… Como foi a experiência?
Onde foi? Foi em São Paulo… Esse show foi fod*. Essa experiência do show estava muito nervosa, eu tinha lançado 'Azul' há pouco tempo, eu não sabia que 'Azul' ia me colocar naquela proporção, como eu disse. E aí, quando eu penso que não, estava em São Paulo, em uma casa de show que comporta 5.000 pessoas, abrindo show para Luedji Luna, que é uma das minhas referências, uma das poetisas que eu mais iro. O trabalho dela me inspira todos os dias também, assim como Russo, assim como Liniker, assim como diversos outros artistas. Enfim, ela me fez esse convite e quando eu cheguei lá, eu estava muito nervosa, ansiosa para poder mostrar aquilo ali e eu dei tudo de mim no palco. Tentei me divertir. Apesar do nervosismo, tentei me divertir. E a maior parte [do público] não me conhecia assim, eu acho que foram mais para assistir Luedji, claro. Tinha algumas pessoas ali do meu público, que já sabiam quem eu era e tinham pessoas que tinham acabado de ver… eu. Acabado de me ver. Chegou um determinado momento do show que eu toquei ‘Barril’ e foi fod*. A gente tocou ‘Barril’’ numa energia massa e a galera começou a gritar meu nome, aí eu quase chorei. O povo ‘Melly, Melly’ e isso nunca tinha acontecido na minha vida e, enfim, eu sou uma pessoa bastante insegura também. Às vezes a gente acha que o artista é sempre seguro de seu trabalho e a gente sempre está acreditando no que a gente faz, mas é uma carreira difícil, acreditar no seu tino, acreditar na sua verdade, acreditar nessas coisas. Depois daquele show ali, rolou aquela… sei lá… A galera curtiu junto comigo, eu curti junto com a galera, rolou aquele negócio, aquele sentimento louco e eu fiquei ‘Por*a, então é isso mesmo, estou fazendo alguma coisa, certa. Foi um show legal.
Está no caminho de cantora, mas também teve um trabalho como atriz, no curta-metragem de ‘Amaríssima’. Como foi para você estrear como atriz para o trabalho do curta-metragem?
Eu já tinha feito alguns outros clipes. O meu primeiro clipe de carreira foi (In)verdade, uma música que eu fiz bem novinha também, que a gente juntou dinheiro. Meu pai juntou dinheiro, investiu e a gente fez. E aí, depois, eu gravei ‘Azul’ e foi isso, poucas experiências com atuação. Coisas simples, coisas básicas. Porque de certa forma também você precisa atuar num clipe, mesmo que eu não esteja falando, mesmo que eu só esteja cantando, a gente tem que ar a expressão no olho, a gente tem que ar o sentimento. E aí, foi uma pincelada para chegar nesse filme de ‘Amaríssima’. Como eu compus o disco pra ser uma história, pra tudo ter relação, pra contar algo, um conceito de algo. Eu achei que o audiovisual tinha que ser conectado também, eu não queria fazer só clipes para singles soltos, específicos, e ficar algo desconjuntado. E aí, um colega meu de trabalho, que ainda trabalha comigo hoje, deu essa ideia da gente fazer [o curta-metragem]. Antes seria uma trilogia. A gente ia pegar três músicas e fazer esse audiovisual, mas acabou que veio a gravadora, vieram outros investimentos, e a gente conseguiu, graças a Jah, fazer algo mais produzido e virou esse filme, que Edvaldo Raw dirigiu, meu parceiro, meu grande parceiro. A gente roteirizou juntos, pensamos nessa história. Como que a gente falaria sobre esse amor que acabou, mas que não é o fim. Como que a gente ia ar essa verdade. E foi isso, mas eu fiquei muito nervosa para atuar também, eu só atuei mesmo porque a gente tem se jogar. Se veio a ideia, se rolou a ideia, se rolou o investimento, se tudo fluiu para aquilo, eu pensei: ‘Por*a, eu não entregar uma coisa meia boca aqui, eu preciso dar tudo de mim e rolou. Mas eu não sou atriz, nunca fiz aula de atuação, eu só sou descarada mesmo. Me joguei na cara de pau, peço licença aqui a todos os profissionais dessa área, porque não é fácil. Não é fácil você ficar confortável para ser uma pessoa que você não é. Interpretar um personagem ali mesmo. Não que eu tenha interpretado muito. Acho que eu fui muito eu ali também naquele filme porque é difícil a gente, de primeira assim, ser fod*. Era tudo muito meu ali, então acabou que eu fui, em certos momentos, em algumas cenas muito eu, em outras vezes fui um eu lírico, mas é muito difícil, muito complicado. Dou meu ponto a todos os atores e atrizes desse Brasil porque é uma ciência poderosa.
E os próximos trabalhos? Vai ter esse audiovisual mais completo com você como atriz?
Eu não sei ainda, agora que eu lancei ‘Amaríssima’, eu ei um ano e meio, quase dois anos, produzindo ‘Amaríssima’, então minha cabeça ficou naquele loop intenso daquele trabalho e agora eu quero fazer com que tenha valido a pena esse tempo. Trabalhar em cima do disco bastante tempo, rodar com ele no Brasil. Quero que mais pessoas em a escutar esse trabalho que eu coloquei meu coração ali, que eu ei tanto tempo investido. Agora eu não tenho pensado em lançar muito mais coisa, não. Eu acho que eu quero ficar com ele um tempinho ainda. Talvez a gente lance um deluxe… deixar isso aí.
Talvez esse Deluxe tenha alguma relação com os bastidores que você compartilhou com Rafa Chagas?
Não, ali é outra coisa. Ali sou eu compondo. Porque eu sou compositora também, eu sou produtora. Eu não me vejo só como essa pessoa que vai ser artista que tá assim, na cara de todo mundo. Acho que eu vou colocar meu pseudônimo ali em alguns lugares também. Compor para algumas pessoas que eu gosto, produzir para alguns artistas que eu acredito.
Tem algum artista na cena agora que você goste muito do trabalho, tanto da Bahia, quanto do Brasil, que você confia e daria várias composições para eles?
Tem vários. Tem Felipe Barros, que é um parceiro de composição também incrível que eu tenho, tem Dja Luz. Tem um artista que ainda não lançou muita coisa ainda, mas ele vai lançar, o nome dele é Lion. Gosto muito da voz dele, do trabalho dele, quero fazer muitas coisas. Eu entregaria muitas composições pra Luedji também, pra Xênia, pra Russo, se ele quiser mais coisa aí também, se ele quiser um dia uma coisa mais melódica, um dia, se ele for cantar. Faria coisa pra Saulo. Oxe, faria para todo mundo. Todo mundo que eu conheço e gosto, eu faria música.
Vai ter o primeiro show da turnê ‘Amaríssima’, aqui em Salvador, no Quincas Berro D’Água, esse mês, e eu queria saber de você qual é a sensação de estar iniciando essa nova etapa de sua carreira?
Eu tô bastante animada, bastante confiante. Eu acho que as coisas tem caminhado muito bem, eu tô muito gratificada também por tudo que tem acontecido e onde a música tem me levado. Quem imaginaria que eu ia esgotar 800 ingressos de uma praça em dois dias, três dias… Quando eu postei que eu ia fazer o show a galera esgotou as meias entradas e depois de três dias esgotou as inteiras também. Estão pedindo segunda data. Vai ter show no Afropunk também, vão ter shows em diversos outros estados do Brasil. Eu nunca imaginei que isso fosse ser possível. E eu fico assim, só feliz que eu posso subir no palco, tenho a certeza de que eu vou subir no palco e eu vou cantar ali para pessoas que vão trocar verdadeiramente comigo, vão vibrar a música ali, vai ser lindo.
O que eu imagino que vai ser incrível também vai ser o Afropunk. Afropunk que você já esteve antes na primeira edição, como convidada, e agora você foi confirmada como atração principal. O que você sente com essa mudança?
De lá para cá foi muito trabalho e tentativa de evolução pessoal, evolução profissional. Eu tô muito orgulhosa do que eu tenho conseguido fazer até agora porque, de fato, é difícil. E eu como pessoa tímida e insegura assim, eu já quero ‘Ah, não gente, eu nunca vou conseguir chegar em tal lugar, eu nunca vou conseguir fazer tal coisa’. E ver tudo isso acontecendo assim é irreal pra mim, parece sonho. Eu vou tocar num dos maiores festivais do mundo que celebra a cultura preta, com 23 anos, com meu primeiro disco. Muita coisa boa acontecendo para ser verdade. Às vezes eu fico até… desacreditada. Eu tô muito feliz. A primeira vez foi bem breve, eu cantei uma música só. Fiz participação no set [setlist] dos meninos do DEEKAPZ, que eu gosto muito também, inclusive tem faixa deles nesse primeiro disco [Amaríssima]. A gente lançou “Fala de Amor” e “Bandida” juntos, são deles. Produção deles.
Rachel Reis teve algumas músicas recentemente em trilhas sonoras de novela. Se você pudesse escolher uma música sua, do Amaríssima, para ir pra trilha de novela, qual música seria e para qual tipo de personagem?
Eu acho que ‘Falar de Amor’ seria uma música de vilã, ‘10 minutos’ seria uma música para algum momento sensual, alguma cena quente aí pá… ‘10 minutos’. ‘Bye Bye’ seria uma música para algum momento bem triste assim. Uma desilusão… Seria massa para alguma cena. Seria massa alguma música minha em alguma novela mesmo, não tinha pensado nisso.
Se fosse trilha sonora, qual seria a reação de Melly com isso?
Eu acho que eu ia transbordar, talvez eu chorasse, talvez eu fizesse um vídeo mandasse para minha família. Muito provavelmente eu ia gravar e mandar a algum querido. A gente ia comemorar junto, vibrar junto e depois eu ia sair para tomar uma cerveja.
Jorge Vercillo celebra 30 anos de carreira e aconselha nova geração a buscar marcas para além do hit
Por Bianca Andrade
Encontros, Elos, a união dos Jorges. Se formos parar para pensar, ao longo de 30 anos de carreira, uma das missões de Jorge Vercillo na música foi promover conexões. Seja no 'Encontro das Águas', primeiro disco lançado pelo carioca em 1994, ou no 'Elo', feito pelo artista em 2002, que rendeu ao cantor uma marca de 1,5 milhões de cópias vendidas e o selo de disco de diamante, com hits como 'Que Nem Maré' e 'Homem-Aranha'.
Quando o tópico é união, o artista vai além do óbvio na referência à discografia, como o projeto ‘Coisa de Jorge’ em conjunto com Jorge Aragão, Jorge Ben Jor e Jorge Mautner, de 2007. Vercillo promoveu um verdadeiro encontro de gerações com suas músicas que alcançaram o público de todas as formas, mas especialmente na TV, com as trilhas sonoras de novelas, tornando-se um recordista na Globo com 23 canções em tramas da emissora.
Foto: Lucas Allegretto/Divulgação
Não dá para dizer que em algum momento da vida você não cantarolou um sucesso sequer do multi-instrumentista brasileiro, que, se ar mais um tempinho em Salvador, ganhará o título de cidadão soteropolitano. A cidade, inclusive, foi uma das responsáveis pelo despertar de Vercillo como um grande artista. Foi na capital baiana, junto a Fortaleza, que o cantor descobriu que estava crescendo na música e sendo ouvido em rádios, bares e lotando shows.
Com essa história especial, Salvador não poderia ficar de fora da celebração dos 30 anos de carreira do cantor. Jorge Vercillo desembarca na capital baiana no dia 9 de junho para uma apresentação especial que será parte de um novo registro audiovisual.
A Concha Acústica do TCA foi escolhida para receber o show, que contará ainda com a participação especial do filho do artista, Vini Vercillo, que faz parte da nova geração da música e que recebe a atenção do artista no cuidado ao produzir. Ao Bahia Notícias, o artista deixou um recado para quem está chegando: “Concentrem-se na qualidade da música e não apenas na quantidade de seguidores”.
Confira a entrevista completa:
Jorge, a Bahia sempre esteve presente na sua vida, de uma forma pessoal, com o laço familiar, mas também de uma forma profissional nesses seus 30 anos de carreira. O que mais te conecta com a Bahia, com a nossa cultura?
Eu tenho um samba autobiográfico que o nome é ‘Tudo Que Eu Tenho’, que fala que tudo que eu tenho foi a música que deu, e fala que eu ocupava a beça o som e os discos do meu irmão. Entre os discos que eu ouvia tinha Gilberto Gil, Caetano Veloso, Pepeu Gomes, Moraes Moreira, muitos artistas baianos. Bethânia, Gal Costa, e artistas nordestinos, Alceu Valença, Fagner, Djavan, então, eu sou uma carioca que une a negritude da soul music e do jazz com a negritude do ijexá, do reggae, do baião, do som nordestino que tem um tanto de música moura. Então, esse ecletismo, essa diversidade, essa pluralidade, sempre esteve presente na minha na minha vida. Eu sou uma carioca que tocava na noite, mas me descobri famoso no Ceará, logo depois em Salvador. Vinha para cá fazer shows para muitas pessoas e voltava para o Rio continuava um desconhecido tocando na noite, e isso marcou muito.
Então, a gente pode dizer que o Nordeste faz parte da sua construção profissional e pessoal?
De lá para cá nesses 30 anos, o Nordeste continua sendo um dos maiores polos consumidores da minha música. É a maior parte de shows, além da região Sudeste com o Rio, São Paulo, Minas que a gente faz sempre, mas o Nordeste continua. E independente disso, eu percebo o Nordeste como um dos grandes polos musicais e culturais do Brasil. Pela riqueza, pela diversidade, pela maneira com que aqui, especificamente na Bahia, vocês vivem vivenciam a cultura de vocês, o folclore de vocês. O São João, por exemplo, é algo muito maior do que no Rio de Janeiro. Eu tenho essa paixão também pelo ijexá que o Gilberto Gil trouxe, pelo reggae, e por essa negritude que a Bahia, mais especificamente em Salvador, tem muito marcado. Além da minha banda do Rio, eu tenho uma banda aqui em Salvador que de vez em quando eu faço shows, é uma ligação enorme.
E quanto a história pessoal, como você se conecta com a Bahia?
Tem uma ligação enorme, ‘Luz do Sol’ do Caetano me batizou na minha adolescência. Eu andava aqui pelas praias de Stella Maris com ‘Luz do Sol’ na cabeça, cantando e pegando ondas com meus primos. Eu ficava andando aqui, entrando nos riozinhos e cantando mentalmente a música e isso me marcou muito. Sou neto de avó baiana, hoje sou casado com uma soteropolitana, tem muitas ligações.
Foto: Nayara Andrade
Nesse show que você traz para Salvador e está rodando o país, o JV30, o público pode acompanhar uma viagem pela sua carreira, mas imagino que como artista deve ser difícil produzir um show reunindo todos esses sucessos e não focado apenas em um CD. Conta como foi produzir esse show.
Ao longo desses 30 anos de carreira, muitas músicas importantes eu cheguei a executar um pouco nos shows, mas acabei parando, como, por exemplo, ‘O Reino das Águas Claras’, ‘Você é Tudo’, ‘Eu e a Vida’, ‘Penso em Ti’, que é uma música que nunca tocou na rádio, mas é é muito querida pelo meu público. Acho que uma marca desse meu show é de conseguir resumir todos os meus grandes hits de rádios, de novela, mas também esses que o público sempre pede, o lado B. Como, por exemplo, ‘Avesso’, que foi composto por mim na década de 90 e se tornou um hino gay, e eu tenho muito orgulho de ter feito essa música. Tem alguns medleys também, para fundir uma música na outra e trazer uma novidade para o show, ficou muito interessante. No meio do show eu paro para fazer um voz e violão e abro espaço para pedidos do público e sempre vem algo muito bacana.
Um fato interessante nesses 30 anos de carreira e de vários hits é que você é um dos recordistas no ranking de artistas com mais músicas em novelas. Como é para você dar voz a sucessos que marcam gerações e qual foi a novela que mais te marcou?
Eu fico muito feliz com isso. Tiveram muitas músicas minhas que tocaram em novelas e que se tornaram sucesso por causa disso, como por exemplo ‘Ela Une Todas As Coisas’ na novela Duas Caras (2008). No início ela não se tornou um hit, mas hoje em dia é a maior, uma das recordistas no YouTube e no rádio também. Tem ‘Fênix’, que não tem tocado tanto em rádio, mas marcou muito e é um dos atos mais emotivos do meu show. São muitas músicas, mas ‘Praia Nua’ em Tropicaliente (1994) me marcou muito porque foi a primeira vez que eu vi a minha voz cantando na televisão. Mas é um privilégio fazer parte dessa história com a música e saber que marcaram o coração das pessoas.
São 30 anos de carreira e diversas canções em novelas, e sabemos a força que a TV tem em unir gerações, também nessa combinação com a música. Imagino que nos shows você perceba um público diverso, desde pessoas mais velhas as mais novas. Como você se sente em relação a esse novo público conhecendo a sua música?
É interessante, porque assim, eu tenho três filhos, a Luísa de 3 anos, o Victor de 17 e o Vinícius de 22, e eles me dão muitas dicas. Outro dia eu fiz uma música com um produtor novo no Rio, Ariel Donato, que é da nova geração, fizemos uma música para gravar com o Delacruz, gostei muito da ideia, do trabalho dele e gravei. Tem também uma participação com o Derek, que é do rap em São Paulo. Fiz uma música com o Marcelo Mello Júnior, que é um rap sensual chamado ‘From Ipanema’, falando da nova Garota de Ipanema. A nova geração me procura para fazer parcerias e gravar coisas novas e eu tenho muita honra disso. Procuro somar com o que eu tenho para dar, mas eu tenho privilégio de poder aprender com essa nova geração.
Desde que você começou a cantar e a gente sabe que muita coisa mudou no mercado e eu queria saber como é produzir para esse novo modelo de consumo?
Tem algumas coisas que são muito parecidas. ‘Tu Sabes’ que eu gravei com a Meri Deal, foi produzida e composta com o Rafinha RSQ. Era um refrão meu que eu já tinha há muito tempo, mais de 10 anos é um refrão bem no meu estilo e ele trouxe elementos um pouco diferentes, a Meri também trouxe uma parte em espanhol, acabou se tornando parceira da música. Eu já produzi com o Donato, e a música que eu gravei com o Delacruz é ‘Mulher Maravilha’, quer dizer, o autor de ‘Homem-Aranha’ agora fala sobre o empoderamento feminino. A gente sempre troca muita informação, quando o Rafinha me procura, por exemplo, ele quer o lirismo e uma riqueza um pouco maior nos versos. Eu dou muito de mim, tem muita coisa parecida no modo de produzir, mas há algumas concessões, não a ponto de me mudar completamente, mas de renovar, porque eu ainda tenho o meu público.
Ao longo dos anos de carreira você já colaborou com diversos artistas, como Jorge Aragão, Djavan, Péricles, Thiaguinho, Cheiro de Amor… Falta alguém nessa lista?
Ah, tem muita gente. Na verdade, eu sou aberto aos artistas e eles a mim também. Eu acho que fica difícil a gente falar, mas tem um pessoal de samba. Já gravei com Belo, com Thiaguinho. Péricles. Acho que desse pessoal, Alcione é um nome que está faltando, e já existe uma iração múltipla entre a gente.
Falamos bastante da nova geração e dos novos públicos. Para encerrar a entrevista, qual conselho você deixa para essa nova geração que decide embarcar na música, ter a arte como uma profissão, e até mesmo para quem só aprecia?
Eu quero deixar um legado. Quero que eles se concentrem na qualidade da música que eles querem fazer e não apenas na quantidade de seguidores, de plays. Porque a quantidade não é a qualidade, e é muito mais importante, o que vai garantir que esse conteúdo vai perdurar, é a qualidade. O que vai definir a permanência dele no mercado é esse diferencial. Tem muitos jovens talentosos que vem me procurar, mas sempre em busca de um hit e eu acho que acaba ficando na mesmice. Os jovens têm muitas ideias boas e essas músicas não necessariamente precisam ser apenas sintéticas. Eu fico muito animado com essa nova geração, tem muita gente talentosa cantando bem, compondo bem, e o conselho que eu deixo é que eles procurem criar a ‘Fênix’, a ‘Praia Nua’ e não apenas o ‘Final Feliz’.
A perda do “Rei do Forró Temperado” Zelito Miranda deixou os corações nordestinos mais tristes em agosto do ano ado. Neste ano, o São João da Bahia homenageia o forrozeiro que tanto contribuiu para a cultura e inovação dos festejos juninos do Nordeste.
Se aos fãs Zelito dedicou 35 anos de sua arte, a Telma Miranda, sua esposa, foram 43 anos de companheirismo e amor, que resultaram em duas filhas, Clarisse e Luiza Miranda, e no tradicional projeto “Forró no Parque”.
Em conversa com o Bahia Notícias, Telma Miranda contou os bastidores da homenagem oferecida ao artista. Em março deste ano, o diretor da Superintendência de Fomento ao Turismo (Sufotur), Diogo Medrado, anunciou a novidade para Telma.
“No mês de março, logo após o Carnaval, Diogo Medrado me ligou e me convidou pra ir lá na pra me comunicar, pra falar que a ideia do governo era fazer essa grande e linda homenagem a Zelito Miranda”.
Telma também desabafou sobre como a família está depois de quase um ano sem o forrozeiro e revelou o futuro do projeto Forró no Parque, comandado por Zelito durante 13 anos, no Parque da Cidade.
“Um vazio enorme (…) Tudo lembra Zelito dentro de casa. Esse São João está sendo um segundo luto, tão forte e tão presente a lembrança dele, e ao mesmo tempo cheio de alegria”.
Confira a entrevista completa:
Zelito sempre esteve atento à importância de valorizar o São João da Bahia além do Nordeste. Você acha que isso influenciou a homenagem?
Zelito sempre foi a pessoa que esteve à frente do São João da Bahia, lá no início quando ainda não se fazia São João no formato do governo da Bahia apoiar o São João, Zelito foi a pessoa que pensou nisso e apresentou o projeto para que fosse feito um São João no formato do pacote turístico que trouxesse pessoas pra Bahia. Foi ele que levou o projeto e a ideia, a partir desse momento ele sempre esteve à frente junto à Secretaria de Turismo tanto para o Brasil todo, inclusive para fora do Brasil pra vender o nosso com o produto turístico. Com isso Zelito Miranda como forrozeiro sempre foi cada vez mais forte. Esse ano infelizmente Zelito não está com a gente, não está participando desse São João.
Como você recebeu a novidade de que Zelito seria o grande homenageado deste São João?
No mês de março, logo após o Carnaval, Diogo Medrado me ligou e me convidou pra ir lá na Sufotur pra me comunicar, pra falar que a ideia do governo era fazer essa grande e linda homenagem a Zelito Miranda. Eu fiquei muito emocionada naquele momento ali em frente a Diogo e ele falando em nome do governador, em nome dele… foi muito emocionante pra mim e pra minha família ficamos muito felizes.
Como foi a reunião com a Sufotur?
Eu sempre fui a empresária de Zelito, além de ser esposa por 43 anos, eu sempre lidei com a antiga Bahiatursa, era eu que sempre estava organizando o show de Zelito. Então eles me chamaram para compartilhar essa ideia e saber em que formato eu gostaria que fosse feita essa homenagem. Achei muito lindo e respeitoso da parte deles.
Zelito sempre defendeu a priorização de artistas locais de forró durante o São João. Isso foi acertado na reunião?
A grade de artistas não, porque é uma coisa maior. Diogo sabia do pensamento de Zelito e o palco que vai ter o nome ‘Zelito Miranda’ vai receber os cantores mais ligados à linha de Zelito, ao forró mais tradicional.
Quanto ao projeto Forró no Parque, existem planos para dar continuidade?
Esse ano eu fiz o Forro no Parque em tributo a Zelito Mirando, convidei Del Feliz para ser o anfitrião, foram três edições em março, abril e maio com muito sucesso, todo mundo indo homenagear Zé. Pretendo dar continuidade, fazer o ano que vem e sempre, porque Zelito adorava o Forró no Parque. Tenho certeza de que onde ele está, está feliz com essa continuidade.
A ideia do Forró no Parque foi sua, não foi?
Criei junto com ele mas tive a ideia ‘Zé, vamos fazer o forro ali no Parque da Cidade, domingo, 11 horas manhã?’ E ele: ‘Você é maluca, não vai dar certo' (risos). Naquela época o Parque era meio abandonado e pensei em fazer de manhã para ser seguro para as pessoas irem e foi um sucesso desde a primeira edição lá em 2010.
Para além das homenagens públicas do legado de Zelito Miranda, como a família lembra de Zelito dentro de casa?
Um vazio. Um vazio enorme. Agora só moramos eu e minha filha mais nova. Zelito e eu tivemos duas filhas, Luiza e Clarisse, Clarisse é a mais velha, que teve bebê, que coincidentemente nasceu no dia 30 de agosto, mesmo dia do aniversário de Zelito. Isso foi muito significativo para a gente aqui de casa porque o dia 30 de agosto seria um dia triste, sem comemoração, mas agora a gente vai comemorar do jeito que ele gosta, com alegria. A casa grande virou um vazio muito grande, tudo lembra Zelito aqui dentro de casa. A gente escuta o som dele, lembra dele tocando violão, assistindo televisão, gostava de novela, de ir ao supermercado… eu tive que aprender a fazer as compras da casa.
Como está sendo para você essa época sem Zelito?
Ele era muito presente, amoroso, apaixonado pelas filhas, muito carinhoso comigo. Esse São João está sendo um segundo luto…ar por isso de novo. Tão forte, tão presente a lembrança dele. E ao mesmo tempo cheio de alegria, porque é muito importante ver Zelito na rua, ver outdoor, ver as homenagens na televisão, receber sua ligação. Isso abala muito a gente positivamente. Saudade enorme, mas a gente fica feliz sabendo o quão ele foi importante para essa memória do forró, para que o forró siga presente.
A ausência de Zelito mudou todo seu cotidiano nesse período junino?
E um grande vazio eu não estar hoje como fui ano ado ao BN com ele, divulgando o São João. Hoje, Zelito já estaria na estrada viajando, fazendo shows, na correria. Enquanto ele não acabava o último show e chegava no hotel, eu ficava acordada conversando com ele, com a equipe… ocupava muito meu tempo. E esse ano eu estou aqui, em casa, sentada, fazendo outras coisas. Uma falta enorme. Não é um vazio só físico, e emocional, não consigo mensurar o que a gente está sentindo.
Compositor de Gusttavo Lima, Léo Santana e Claudia Leitte, Brenno Casagrande aposta que pode "chegar mais longe"
Por Erem Carla
O baiano Brenno Casagrande, de 28 anos de idade, traz consigo um currículo recheado de hits nacionais interpretados por artistas que vão de Gusttavo Lima, Luan Santana, Léo Santana, Claudia Leitte até Pedro Sampaio.
Desta vez, o Brenno compositor arrisca interpretar suas letras e lança sua carreira musical apostando no single "arinho", canção inspirada numa “uma relação pequena mas muito bonita”.
Em entrevista ao Bahia Notícias, o artista compartilhou suas impressões e confessou que não cantaria metade das músicas que já compôs. Brenno também revelou seus anseios ao ter como inspiração seu pai, o compositor Paulo Jorge, autor de um dos maiores hits da música baiana: “Vai sacudir, vai abalar”.
“Em quantidade já tenho até mais que ele, só que eu não sei se minhas músicas farão sucesso daqui a 30 anos, como a dele faz”, conta.
Breno também revelou qual seu gênero musical preferido, artista favorito e bastidores das composições que já fez. Confira a entrevista completa.
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
O que faz um compositor querer interpretar suas letras?
Na verdade, a minha composição se deu totalmente como um atalho para minha voz. Eu pensava: “Como vou ser cantor, se eu não criar uma música?” E agora eu decidi que existe essa possibilidade de cantar minhas próprias músicas e fazer sucesso com elas.
E por que o você não deu voz às músicas que já presumiam sucesso?
O artista Brenno é diferente do compositor Brenno. O compositor Brenno não tem gênero, não tem preferência musical. Eu escrevo de tudo. Tenho músicas com Léo [Santana], Luan [Santana], Gusttavo [Lima] e a maioria das músicas que eu escrevo para o mercado, eu não cantaria enquanto artista.
Por quê?
Não que elas não sejam legais, mas elas não conversam com o universo que eu escolhi cantar. E os artistas já têm o holofote, gravam e fazem sucesso com essa música que talvez o compositor não fizesse o mesmo sucesso por causa do alcance.
Muitos compositores reclamam de problemas com interferência nas composições, direitos autorais… Você já ou por isso?
Já ei por essas situações, mas consegui resolver de uma maneira tranquila. As coisas são resolvidas no diálogo, alguns artistas realmente cometem essa falha, mas às vezes essas falhas vêm da produtora, da gravadora e não do próprio cantor.
Se pai é compositor de um dos maiores sucessos do axé music, você sente pressão com comparação?
Já senti (risos). Eu tenho muitas músicas de sucesso, em quantidade já tenho até mais que ele. Só que eu não sei se minhas músicas farão sucesso daqui a 30 anos, como a dele faz. “Vai sacudir, vai abalar” é um hino do Carnaval, e mais outras músicas que atravessaram décadas. É uma baita herança que meu pai deixou pra gente (risos). Espero que aconteça com as minhas músicas.
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Você tá lançando arinho. Qual a história da música?
Comecei essa música em outubro de 2019, fiz o refrão dela e postei no Instagram, aí Felipe Pezzoni mandou mensagem perguntando se já estava pronta, eu terminei a música na hora e mandei pra ele. Aí veio a pandemia e ele acabou não gravando. Quando foi ano ado, eu lembrei dessa música, finalizei ela e postei no meu Instagram. Luan Santana, Gabriel Elias e Vitão comentaram. Eu pensei: ‘tem algum mistério nessa música’ (risos). E é uma composição muito especial para mim.
Do que fala a música?
Foi um amor que eu tive, uma relação pequena mas muito bonita que eu vivi. E como essa pessoa foi para longe, voou, eu decidi colocar o nome de arinho. Mas foi uma história feliz, não teve final mas foi feliz.
Suas músicas se dividem muito entre o sertanejo, o axé, o pagode… Qual seu gênero favorito?
O sertanejo (risos). No sertanejo eu consigo colocar um pouco do que eu sou como cantor, me permite uma letra mais poética. Os outros gêneros é mais balanço, mais festa, mais dança, não dá para colocar uma poesia mais rebuscada e como eu gosto dessas letras bonitinhas, o sertanejo me deixa mais à vontade nesse quesito.
Além desse lançamento, quais são suas perspectivas para o futuro?
Quero lançar três singles, uma marca para uma festa e deixar que o universo traga o que tem que acontecer, porque no final das contas o universo é sábio, ele dá o que a gente precisa, nos oferece as portas que a gente precisa entrar. Fazer muita música, fazer as pessoas felizes com meu som e mostrar o Brenno cantor, que eu acho que pode chegar mais longe que o compositor (risos).
Algum artista em vista para futuras parcerias?
Como cantor quero muito gravar com Jau, sou muito fã. Tive na casa dele, a gente trocou uma ideia legal sobre esse possível feat, inclusive Jau foi o primeiro artista a gravar uma composição minha [Fronteira do Impossível]. O som dele me inspira muito, é meu artista favorito.
E o Brenno compositor?
Agora vai ter um lançamento do Felipe Amorim, a gente entrou com algumas músicas no DVD do Luan Santana, tem Zé Vaqueiro, Xand Avião, Claudia Leitte, Kart Love, Thiago Aquino, muita gente.
De motivo de chacota a fenômeno do arrocha, Aldiran detalha o Unha Pintada e sua trajetória
Por Erem Carla
Nascido no Povoado Barroca, zona rural do município de Simão Dias, em Aracajú (SE), Aldiran nunca imaginou que sua atitude de pintar as unhas ia no futuro se tornar o nome de uma das maiores bandas de arrocha do Nordeste.
Se hoje a manicure masculina ainda é uma polêmica na sociedade, no interior do estado de Sergipe, anos atrás, Aldiran lembra do espanto de quem o encontrava, mas diz que sempre lidou bem com as reações.
Em entrevista ao Bahia Notícias, o cantor também revelou sobre o difícil momento que viveu quando precisou realizar uma hemodiálise em 2021 devido a problemas renais e precisou cancelar os shows no São João de 2022.
Aldiran também revelou os bastidores do projeto “Unha Prime”, que reúne artistas do arrocha de todo território nacional. Confira:
Você sempre comenta sobre a origem do nome da banda. Neste ano, muitos artistas foram alvo de críticas por usar a unha pintada e você já usa as suas há muitos anos. Como foi para você naquela época?
Tenho toda certeza que o Unha Pintada é um projeto de Deus. Antes mesmo de fundar [a banda], na época do colégio eu já pintava as unhas. Nunca consigo decorar se era Cristian ou era Ralf. Era um dos dois que pintava a unha do dedo mindinho. E eu resolvi extravasar, extrapolar, pintar tudo. Pintava até as unhas dos pés.
E qual foi a reação dos colegas?
No colégio foi motivo de chacota. Já era conhecido na roça como "Doidinho". Depois resolvi cantar, começar um projeto. Cantava no grupo dos outros e tentava bolar um nome para montar o meu próprio grupo. Só que no colégio eu já era conhecido como unha pintada, todo mundo esqueceu meu nome de batismo, que é Aldiran. [Pensei] “Eu vou cantar para os meus amigos, então eu vou deixar como eu sou mais conhecido”. No início foi muita curiosidade, muita chacota, muito preconceito. Mas graças a Deus foi devido a essa curiosidade que gerou perante a comunidade, perante a minha cidade, que eu fui ficando conhecido.
Qual foi a sua reação ao perceber que os homens que vão para os seus shows pintam as unhas?
"Essa loucura, esse algo bizarro se tornou popular. Todo mundo que ia para o show de Unha Pintada queria se parecer comigo, deixava uma barbinha, colocava um boné… antes eu usava chapéu e bota de vaqueiro e a galera também ia caracterizada e a onda da unha pintada foi pegando. E eu fico muito alegre que isso foi se popularizando e hoje, graças a Deus, é praticamente normal um homem com a unha pintada.
Quando você percebeu que o Unha Pintada era um sucesso?
E se eu te disser que ainda não percebi? A galera pede pra eu cantar, eu coloco no repertório e aí galera adere a minha interpretação. Tem algumas músicas do próprio Luan Santana que eu interpreto, que a galera pensa que a música é minha e o CD pipoca, estoura. E eu fico muito feliz com esse carinho do público.
Como funciona esse contato com os artistas para regravar as músicas?
Geralmente quando eu gravo as músicas eu sempre procuro falar o nome dos donos. “Sucesso de fulano de tal”, eu sempre procuro dizer de quem é. Porque geralmente gera um pouco de ciúme em determinada região se a música chegar na minha voz, o artista dono da música vai sentir um pouco enciumado. Aí é necessário que fale. Também ter essa parceria com outros artistas para que a gente possa se fortalecer cada vez mais.
Você ou por um período muito complicado esse ano, entre abril e junho, e precisou até cancelar alguns shows no período junino. O que aconteceu?
Eu peguei uma jornada de shows muito grande e peguei algumas regiões da Bahia aqui frias pra caramba, principalmente na divisa de Minas. Peguei uma gripe muito forte e fui insistindo nessa gripe e cumprindo os shows. Mas chega uma hora que o físico não aguenta. Eu fiquei bem ruim mesmo, muita dor de cabeça, tava tossindo muito, a garganta já tava praticamente retalhada e eu tive que cancelar alguns shows pra poder recuperar um pouco.
Algumas pessoas se preocuparam por causa do susto com o problema renal do ano ado. Então não teve relação?
Foi só uma gripe, eu estava tossindo muito e a garganta inflamou. Como cantor trabalha com a garganta, o meu instrumento de trabalho estava defasado. Eu tive que cancelar alguns shows para poder retornar na semana seguinte.
Falando sobre o Unha Prime, como surgiu a ideia de fazer uma festa que reúne apenas artistas de arrocha?
Na verdade, a gente procura fortalecer o estilo. Acho que isso deveria ser uma prioridade de quem faz o estilo do arrocha. Eu sou sergipano, mas o arrocha é da Bahia, surgiu aqui, tudo começou aqui. Então eu procuro sempre em minhas parcerias estar fortalecendo o estilo para que a gente possa abranger o Brasil inteiro, popularizar ainda mais. Muita gente ainda precisa conhecer e reconhecer o ritmo arrocha. Então eu procuro fortalecer isso. Seja nos eventos, seja nas entrevistas, mas sempre fortalecer o estilo. Eu canto a arrocha, eu sou arrocheiro!
'Ó Paí Ó 2': Vinícius Nascimento comemora sequência do filme e relembra cena de morte
Por Antônia Fernanda / Erem Carla
Soteropolitano da gema, nascido e criado no Pelourinho, o ator Vinícius Nascimento está novamente usando as ruas do centro histórico da cidade para mais um trabalho que, sem dúvidas, será um dos mais importantes de sua carreira. Aos 24 anos de idade, o jovem está entre os atores que participarão do filme ‘Ó Paí Ó 2’, dirigido pela cineasta e roteirista baiana Viviane Ferreira.
Apesar da pouca idade, o baiano possui uma bagagem profissional vasta e participação em grandes obras nacionais, como o filme "Entre Irmãs (2017)", o curta-metragem "Doido Lelé (2009)", o filme "À Beira do Caminho (2012)" e "Ó Paí Ó (2007)". Neste último, Vinícius deu vida a "Cosme", seu primeiro trabalho como ator, aos 7 anos de idade.
"Eu olho minha vida de antigamente, eu olho para hoje, e sou muito grato por tudo que aconteceu. Agradeço a Deus, aos Orixás pelo que fizeram na minha vida. Nesses 17 anos de carreira eu não fiz nada sozinho, lógico. Todas as pessoas que aram na minha vida foram importantes de certa forma", diz, ao refletir sobre sua carreira.
Durante entrevista para o Bahia Notícias, o ator falou sobre os seus trabalhos profissionais, rotina durante as gravações, desafios e a importância do filme 'Ó Paí Ó' para o centro histórico da capital baiana.
"Eu fui em um evento e uma mulher de Fortaleza me falou: 'Poxa, eu quis conhecer Salvador porque eu assisti Ó Paí Ó'. Então, sim, depois do filme o turismo foi um pouco mais movimentado. Tem gente que olha pra mim e fala: 'Poxa, eu assisti o filme, fui visitar o Pelourinho e pensei que o elenco ia estar por lá'. Mas isso é bom, porque a história foi contada do jeito certo. O filme retrata bem um pouco da história que aquele lugar trazia", comenta Vinícius.
O roteiro de 'Ó paí Ó 2' foi escrito por Elísio Lopes Jr, Daniel Arcade, Igor Verde e Viviane Ferreira com colaboração de Luciana Souza, Bando de Teatro Olodum e Rafael Primot, e pesquisa de Dodô Azevedo.
Confira entrevista completa:
Você começou sua carreira de ator muito cedo, desde os 7 anos de idade, e aos 9 anos já ganhou um prêmio... Como foi ser premiado como "Melhor Ator'' no curta-metragem "Doido Lelé (2009)"?
Eu vim degustar do que é ser um ator premiado depois de muito tempo após o prêmio. Depois, quando eu tinha uns 16 ou 17 anos, porque quando eu estava na juventude, quando eu era criança, para mim estava tudo certo, não estava fazendo tanta diferença enquanto pessoa, enquanto ator, porque eu não tinha medido a dimensão daquilo ainda. Então, hoje, quando eu olho para tudo que ou... Eu tive a sorte de ser escolhido pelo universo para estar ando por certas coisas. Hoje eu sou feliz e grato pelas coisas que aconteceram na minha vida. Esse prêmio veio para que eu me valorizasse enquanto ator e as pessoas também entendessem que é possível pessoas pretas, de Salvador, de comunidade, arem por coisas que eu ei.
Foto: Divulgação I Curta ‘Doido Lelé'
Você acredita que isso - prêmios de 'Melhor Ator', no 4º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino e 'Melhor ator Coadjuvante', no Cine PE - refletiu positivamente em toda a sua carreira como ator? Abriu portas para você?
Abriu portas, sendo bem sincero. Eu sou muito grato a esse (‘Melhor Ator Coadjuvante’, pelo filme ‘À Beira do Caminho', de 2012) prêmio específico, porque isso é oriundo de um trabalho de equipe. Nós atores não trabalhamos só, não fazemos um filme sozinhos. Por trás das câmeras tem dezenas de profissionais para cada setor daquele set. Então, se resultou no processo final eu ter ganhado um prêmio como melhor ator coadjuvante, foi porque eu bati bola com o João Miguel, Dira Paes, com Ângelo... Com certeza eu tive uma boa direção com o próprio Breno Silveira, que pra mim foi uma pessoa essencial na minha carreira, me deu diversas oportunidades, me dirigia de uma forma muito sábia.
"Á Beira do Caminho" é minha vida. Foi um prêmio que quando eu soube que fui indicado e ganhei, eu já tinha maturidade. (...) Hoje, eu entendo que foi algo muito importante para mim e sou grato a Breno, porque foi um cara muito importante na minha vida. Hoje ele não está mais entre nós. Mas só em eu ter degustado com sabedoria todos os momentos que eu vivi próximo a ele e que resultou em uma premiação como essa, por exemplo, eu sou um cara muito feliz por isso.
Filme ‘À Beira do Caminho’ | Foto: Divulgação
Como foi participar de um dos maiores filmes do país, "Ó Paí Ó", e ser um dos atores de destaque?
Quando eu fui descoberto para fazer parte do elenco do filme, eu estava brincando na rua mesmo, literalmente como uma criança qualquer do Centro Histórico. Eu fui nascido e criado no Pelourinho. Eu gosto muito de fortificar isso. Ali é uma comunidade, as pessoas são unidas e acontece de tudo como um bairro qualquer. (...) Eu estava brincando na rua quando a Monique Gardenberg (diretora da obra) ou e me viu descendo as escadarias (da Igreja do Santíssimo Sacramento do o). Isso virou até cena do filme. Eu descia com o meu irmão. Ela ou, viu aquela cena e me pediu para descer de novo. Foi falar com minha mãe, me convidou para fazer o filme e aí ela 'desembolou' com minha mãe. Eu lembro que um ou dois dias depois eu já estava com o elenco fazendo leitura de roteiro, pessoas que eu via na televisão eu estava vendo pessoalmente… Eu estava levando muita coisa na brincadeira. As pessoas conduziram do jeito certo.
Como foi depois que você viu o resultado de 'Ó Paí Ó', a galera abraçando, o seu primeiro filme ser um dos maiores sucessos do cinema brasileiro?
A minha mãe foi muito importante para mim neste processo. Em muitos momentos eu era conhecido na rua, eu fui famoso naquela época, meu rosto ficou marcado em muitos lugares, o filme bombou demais, estouro de bilheteria... O carro ia me buscar na escola para eu gravar, eu parava a escola. Quando eu voltei, voltei dando autógrafo no caderno da galera. Mas com medo de me corromper pela fama precoce. Eu tive muito puxão de orelha da minha mãe para que isso não subisse para minha cabeça.
Depois do sucesso do filme ‘Ó paí Ó’ você acredita que houve uma mudança na visão que a galera tinha de Salvador, e (o sucesso do filme) abriu portas para os artistas do Pelourinho?
Eu considero o Pelourinho o principal cartão postal de Salvador. Se você vier em Salvador e não for no Pelourinho, você veio em Salvador errado.
Eu fui em um evento e uma mulher de Fortaleza me falou: 'Poxa, eu quis conhecer Salvador porque eu assisti 'Ó Paí Ó'. Então, sim, depois do filme o turismo foi um pouco mais movimentado. Tem gente que olha pra mim e fala: 'Poxa, eu assisti o filme, fui visitar o Pelourinho e pensei que o elenco ia estar por lá'. Mas isso é bom, porque a história foi contada do jeito certo. O filme retrata bem um pouco da história que aquele lugar trazia.
Do início da história até o fim eu posso bater na mesa e afirmar que muitas coisas que aram no filme de fato acontecem no Pelourinho. Até a cena final, que é muito triste.
Você reencontrou o elenco para gravar a sequência do filme... Como é o clima, os bastidores?
Eu tenho postado parte dos bastidores em meu Instagram e as pessoas têm pedido mais a toda hora. Eu não sou um cara de internet, eu sou muito off para essas coisas, mas eu estou me fazendo presente agora. Peço desculpas às pessoas, mas eu tento.
As pessoas têm acompanhado, tem sido um processo muito gostoso como sempre. Aquele elenco é muito unido, tem um entrosamento, acho que a gente tem muita coisa para mostrar.
Foto: Reprodução/Instagram
Qual foi a sua reação quando surgiu o convite para fazer a sequência?
Esse namoro é antigo, da volta deste filme. O filme estava para voltar desde muito tempo, o namoro, as propostas, as possibilidades de volta são existentes desde 2019.
Quando nós soubemos de fato que tinha algo sendo preparado, ficamos muito felizes. Eu fiquei em êxtase. Para mim, é algo muito rico tanto como artista, quanto pessoa, quanto morador do Pelourinho também. Estamos usando o Pelourinho como cenário principal para fazer as gravações e isso acaba mexendo com a imagem do lugar e, para mim, isso é bom. Mexe com as pessoas, mexe com o mercado, com o turismo. Cada um vai se beneficiando de certa forma.
Me fale sobre o seu lado dublador. A preparação é a mesma, a dificuldade é maior?
Quando eu recebi o convite para dublar 'A Era do Gelo' foi algo muito... Deu aquela agonia por dentro, porque eu não sabia como funcionava o processo. Eu sempre tinha participado de processos audiovisuais com câmeras, estava envolvido em set, e eu não sabia como é que seria no processo de dublagem, ainda mais de um projeto tão grande. Eu fui com medo. A gente foi fazendo, achei bem tranquilo, inicialmente falando. Mas dublar é algo bem mais complicado que para atuar. É algo mais preciso, embora a gente esteja atuando de certa forma.
Agradeço muito a experiência, faria de novo tranquilamente, eu acho (risos). Mas iro muito os profissionais da área, porque dublar não é brincadeira, não.
Como foram as gravações para a 2ª Temporada de Dom, série original Amazon em língua não-inglesa mais assistida ao redor do mundo?
Foi minha primeira experiência fora do país como ator. Eu contracenei com pessoas falando outras línguas. Pra mim, foi algo muito grandioso, muito rico enquanto artista. Quando eu recebi a notícia de aprovação, eu fiquei muito feliz. (...) Eu estudei muito o personagem.
A gente que está ali no dia a dia do Pelourinho lida com muitos turistas. Vem gente de todos os lugares do mundo. Tem gente ali no Pelourinho que você não dá nada, mas fala não sei quantos idiomas, porque ele está ali no centro de Salvador.
Você já viveu algo nas gravações e depois teve que usar a experiência no dia a dia?
Na vida diária da nossa espiritualidade a gente acaba mexendo com alguns tipos de energias. Quando eu vivi o processo de 'Entre Irmãs', meu personagem era filho de um açougueiro que foi assassinado. Ele era o cangaceiro mais jovem, o mais novo do bando de Carcará, e manjava das facas, de cortar bichos, de caçar e usar o alimento para alimentar o seu bando. Então, isso na minha vida diária, junto a minha religião (Candomblé), foi importante por essa troca de energia com a natureza. Foi uma forma de associar um laboratório que eu fiz com a minha vida.
Foto: Divulgação I Filme ‘Entre Irmãs’
Foto: Divulgação I 'Entre Irmãs'
Se você não fosse ator, o que você estaria fazendo agora?
Para ser bem sincero, eu olho minha vida de antigamente, eu olho para hoje, e eu sou muito grato por tudo que aconteceu. Agradeço a Deus, aos Orixás, pelo que fez na minha vida. Nesses 17 anos de carreira eu não fiz nada sozinho, lógico. Todas as pessoas que aram na minha vida foram importantes de certa forma.
Com 42 anos de existência, o Ara Ketu, quando toca, continua deixando todo mundo pulando que nem pipoca. Prestes a completar cinco anos comandando os vocais da banda, Dan Miranda conversou com o Bahia Notícias sobre a evolução musical e a renovação que o grupo está apostando.
“Na verdade é uma fase que eu posso até usar o termo ‘Tecnológica do Ara Ketu’, porque é uma banda que tem 42 anos, mas independente da idade cronológica precisa estar sempre evoluindo”.
Apostando em parcerias musicais com artistas de brega funk e sertanejo, como ‘Onda do Amor’, nova música de trabalho com Gabi Martins, Dan ainda explicou por que não enxerga os novos ritmos como ameaça a gêneros tradicionais como o axé music.
“Eu tenho uma opinião diferente de algumas pessoas, alguns colegas inclusive acham que eu deveria ser mais radical”.
Durante o papo, o vocalista da Ara Ketu também falou sobre tendências musicais na internet, coreografias, novas parcerias e música para o Carnaval 2023.
Confira a entrevista completa:
Vamos começar falando um pouco desse lançamento com Gabi Martins. Como foi que aconteceu o contato entre vocês?
Na verdade já tínhamos conversado no Ara Ketu e estávamos convidando algumas pessoas para fazer participações [nas lives] durante a pandemia. O primeiro foi Ávine Vinny e depois demos uma estagnada no processo por causa da pandemia, amos a lançar outras coisas do Ara Ketu, fizemos releituras, mas sempre com essa vontade de fazer os feats. Surgiu essa música através de Adson Santana, nosso diretor musical, e a ideia de chamar Gabi foi de Cristiano e Kadu. Foi uma grata surpresa ela ter aceitado o convite porque ela disse que também tinha vontade de gravar com o Ara Ketu.
Vocês reforçam que essa música marca uma nova fase da Ara Ketu, que fase é essa?
Na verdade é uma fase que eu posso até usar o termo ‘Tecnológica do Ara Ketu’ porque é uma banda que tem 42 anos, mas independente da idade cronológica precisa estar sempre evoluindo. Hoje a gente usa muito essa questão tecnológica musical, o mundo todo usa, e o Ara Ketu, embora com 42 anos, está participando dessa evolução tecnológica musical. Então para gente é um prazer também ter a participação de uma cantora de sertanejo com todos esses aparatos que a gente já queria usar, hoje tem espaço para usar e estamos usando.
Você completa cinco anos à frente de Ara Ketu em dezembro, o que você sentiu mudar na banda com o ar desses anos?
Uma das grandes mudanças do Ara Ketu é justamente a gente está tentando colocar uma cara mais nova na banda, mas preservando também o antigo. Acho que hoje é a grande mudança do Ara Ketu. O Ara Ketu tem participações em alguns discos antigos com artistas da música popular mas não tinha com artistas sertanejos, hoje já tem e com certeza virão mais novidades com outros artistas também.
Muito se discute que a chegada desses novos ritmos às vezes fazem com que as bandas mais tradicionais, como as bandas de axé, percam espaço em grandes eventos, como o Carnaval por exemplo. Você enxerga esse conflito?
Eu tenho uma opinião diferente de algumas pessoas, alguns colegas inclusive acham que eu deveria ser mais radical, mas eu acho que toda e qualquer manifestação de cultura, principalmente a musical, é bem vinda. Acho que tudo é cíclico, as gerações estão aí para consumir o que eles gostam e cabe a gente que proporciona para eles [público] enquanto produto, produzir uma coisa que eles também consumam. Então por que não ter essa mistura de ritmos, de colegas de outros segmentos musicais para somar junto com a gente? O Ara Ketu continua mantendo a essência mas a gente faz algumas músicas modernas na batida da gente e eu acho que não tem porque não fazer. Isso só enriquece a nossa música e a nossa história enquanto banda.
Como você disse, são 42 anos de Ara Ketu e a banda vem se mantendo com o ar dos anos. Como é feito o trabalho de manutenção e conquista de novos públicos?
Estamos ando por essa manutenção agora e está dando certo. Modernizando algumas coisas e preservando o que já tinha no Ara Ketu que é pegar uma história gigantesca com muitos sucessos, uma história já antiga e dá uma cara nova, mantendo e preservando o que a gente já encontrou. Usando percussão nova, um pouco de percussão eletrônica, arranjos mais modernos, mas não deixando de preservar o que a gente já encontrou.
Entre essas coisas mais modernas, existe uma forte pressão das músicas virem acompanhadas de coreografias. Como a banda trabalha isso?
Inclusive nessa música com Gabi tem uma coreografia simples que nós fazemos, que embora simples, é muito legal. Isso é super importante, hoje existe essa necessidade do mercado de ter uma coreografia, fazer uma dancinha, uma brincadeira… e a gente tá seguindo também esse caminho.
O Ara Ketu já misturou brega funk, forró, sertanejo… qual outro ritmo a gente pode esperar na mistura com o Ara?
Podem esperar vários (risos). A gente tá pensando algumas parcerias super interessantes, que ainda são segredo (risos), mas a gente vai anunciar em breve. Vai ter muita novidade boa, uma música já para o Carnaval que vai ter uma dancinha também que com certeza vai ficar na cabeça da galera.
E como está essa preparação do Ara Ketu para o Carnaval de 2023?
Estou malhando e dormindo um pouco mais, porque esse ano o Carnaval promete. O Ara Ketu é uma banda que toca muito fora de Salvador, fora da Bahia e por onde nós amos no Brasil inteiro é todo mundo falando que vem para o Carnaval de Salvador. Existe uma demanda reprimida por causa da pandemia, desse processo de dois anos que todos nós amos em casa sem poder fazer festa, sem poder aglomerar e eu tenho certeza que vai ser um Carnaval espetacular para todo mundo.