"Eu não preciso de rótulos, eu quero falar minha verdade", afirma Vina Calmon em desafio na carreira solo
Por dez anos, o cheiro que ficou no ar para Vina Calmon foi o de amor. A pernambucana, nascida em Santa Maria da Boa Vista, assumiu o compromisso de estar a frente de uma das maiores bandas da Axé Music, a Cheiro de Amor, que fez com que a artista realizasse um dos maiores sonhos da vida, além de ficar conhecida nacionalmente pela música, impactar positivamente pessoas com a própria arte.
Em 2024, Vina decidiu mudar a fórmula do perfume e escolheu um novo cheiro para chamar de seu, o perfume próprio. Ao fim do Carnaval, a cantora anunciou o fim da parceria com o Cheiro e anunciou a carreira solo, como integrante do casting da Salvador Produções.
A saída, marcada por mistérios por um fim quase inconclusivo para os fãs, sem a sonhada despedida, deu a força necessária para que a "pernambaiana" investisse ainda mais na própria carreira afim de deixar a própria marca, que mistura um pouco de toda trajetória da artista na música.
Ao Bahia Notícias, Vina Calmon abriu o coração durante a entrevista para falar sobre a nova fase da carreira, as dificuldades como uma mulher na música, a saída do Cheiro, os maiores sonhos da carreira solo, e não conteve a emoção ao falar sobre a família, porto seguro da artista e principais fãs. Confira a entrevista completa:
Foram 10 anos de Cheiro de Amor e fica aquela dúvida, qual, para você, foi o momento da virada de chave para decidir seguir na carreira solo?
Aconteceu com muita naturalidade, né? Eu ei 10 anos à frente do Cheiro e com o ar do tempo comecei a idealizar algo sobre minha carreira solo. Uma sementinha foi plantada em algum momento ali, começou a me despertar a vontade de criar essas asas e daí foi acontecendo mesmo. Eu percebi que eu estava num momento de dar mais um o na minha carreira.
Vina, você não é baiana, mas a gente já disse que você tem essa alma baiana. Além de cantar o Axé, você também teve um período no forró, eu quero que você fale um pouco sobre essas suas influências na música até construir a Vina Calmon que hoje se apresenta como artista solo.
Eu vim para Bahia muito novinha, vim morar aqui há cinco anos de idade. Então eu já tenho essa baianidade de alma também até porque a Bahia me acolheu de braços abertos. Eu vim cantar aqui e já vim para cantar na Banda Xerife, e depois que eu fui pro Cheiro, então já tenho já tem uns aninhos a aí sendo acolhida pela Bahia e já me considero sem sombra de dúvidas baiana.
Você fala que você tem esse é esse esse apego, esse carinho pelo Axé há muito tempo, mas também tem o forró, que se apresenta em algumas das suas novas faixas. Então me fala um pouco sobre essa construção de artista.
Eu comecei a cantar muito nova, com 10 anos de idade. Então a ali foi onde tudo começou em Sobradinho. Inclusive, eu comecei a cantar num grupo do meu ex-padrasto e ele é me deu uma oportunidade de começar a cantar lá pelo por incentivo de minha mãe, minha mãe sempre acreditou desde quando eu era cantora de banheiro. Eu comecei a ouvir e eu ouvia muito forró, e posterior à isso eu fui cantora de MPB, cantora de barzinho que canta de tudo, era uma banda baile onde eu pude aprender muito sobre o que é música, tive grandes referências, como Marisa Monte, Caetano Veloso, mas também amo Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Cheiro de Amor, Banda Beijo. Eu sempre tive isso comigo sempre quis vir pra Salvador, inclusive cresci ouvindo 'essa menina tem que ir para Salvador', mas eu não tinha expectativa de vir para cá porque minha família não tinha condições de me bancar, eu tive realmente que meter as caras.
Vina, eu queria saber se você teve algum medo quando você foi dar esse o, do tipo 'Ah, ei tanto tempo dentro dessa caixa e agora eu vou me permitir cantar outras coisas cantar o que eu gosto'.
Dá aquele frio na barriga, mas eu sempre tive a certeza de que eu, fazendo a minha verdade, não tem como dar erro. E é sobre isso sem paranoias, eu acho que não precisa de paranoias, até porque com muita lucidez eu posso dizer que vão existir pessoas que não vão gostar, mas é independente de estilo e tá tudo bem também, mas eu sei também que vão existir pessoas que vão gostar. Eu sei que vão existir pessoas que vão gostar muito isso para mim importa.
E agora na carreira solo você acha que essa mistura que você sempre ouviu é meio uma definição do que você canta">
Eu gosto de cantar, isso é um fato [...] Eu acho que a música é sem fronteiras, não precisa de um DDD para ter um estilo musical porque nós temos a internet, a velocidade da internet a nosso favor, então a gente alcança o mundo inteiro. Eu não preciso de rótulos, eu quero falar minha verdade. Nessa sua nova jornada com carreira solo, uma coisa me chamou atenção nas duas músicas que você lançou, 'Beija Eu' e 'Sinasi', é que a letra vem falando sobre relacionamento. Eu queria saber se nessa nova fase você vai seguir a linha Conselheira Amorosa, se também vem um pouco, de como o pessoal diz, de fuleragem nas letras. A priori, nessas músicas eu venho falando sobre é a potência da mulher e as suas vulnerabilidades. A gente precisa entender que a gente tem sim as vulnerabilidades, enxergá-las, mas também busca superá-las e começar a se enxergar de dentro para fora, a mulher potente que existe ali em nós porque. Eu quero falar disso para a mulherada, mas também vem a fuleragenzinha, óbvio, quem não gosta de uma sacanagenzinha não é? É a dancinha, a diversão, a alegria. Eu quero, de coração, que a minha música chega até você de uma forma positiva, de uma forma alegre. Você está recomeçando uma carreira, agora como artista solo. Eu quero saber quais foram as dificuldades que você encontrou nesse primeiro momento. Não é fácil, é um momento é essa construção começada praticamente do zero, porque eu trago comigo a experiência de tantos anos aí na estrada, porém, eu tenho que começar do zero, quer queira ou não. Requer muita paciência, mexe muito com o nosso emocional, mexe com psicológico, mas eu entendo que isso aqui é a minha vida, não é à toa que eu canto desde os meus 10 anos de idade. Quando eu tô muito aperriada eu começo a pensar eu olho um pouquinho para trás e eu olho e faço uma reflexão sobre como foi a minha história lá atrás e onde eu estou agora. Então, apesar das adversidades, eu tô aqui. Isso é além do sonho porque eu tenho o meu sonho, todo artista quer estourar, mas eu lhe digo com muita propriedade que para mim isso aqui vai além e independente de qualquer coisa eu vou continuar trabalhando. Vina, uma coisa que eu acho que é importante deixar claro, é que sempre que acontece esse movimento de saída de banda, o pessoal começa a especular se houve alguma intriga, mas eu acho justo e acho válido até para você também deixar claro, mais uma vez, como foi que aconteceu essa sua saída do Cheiro e esclarecer se houve alguma briga. Está tudo na paz. O processo de mudança, obviamente não foi fácil, mas não tive nenhum problema de briga. Eu fui a primeira a falar 'não vou brigar com ninguém, não adianta que eu não vou brigar' e assim eu fiz. Não fui instigada a isso. Quando eu comuniquei com meus antigos empresários, eu chamei para que pudéssemos trazer eles para a sociedade também, convidamos, mas a negociação não progrediu. Foi a escolha deles também, porque de alguma forma não seria bom para eles. Mas não fui maltratada em momento algum. Você ou anos em cima do trio, fez a estreia da carreira solo no Fortal, eu queria saber se você já faz planos para o Carnaval de Salvador e se vai voltar para a festa Abandonar o Carnaval de Salvador, jamais! Porque quem bebe dessa água não esquece. É incrível, né? Que momento mágico que coisa linda e só quem tá ali consegue sentir aquela energia. Vamos continuar trabalhando para estar sim no Carnaval de Salvador, com certeza. Meu Carnaval, já está bem encaminhado, graças a Deus. Vina, para finalizar, eu quero saber de você ao longo de todos esses anos de carreira, quais foram os momentos mais marcantes para você. Minha filha o meu primeiro palco foi um palanque, era no carro do lixo lá na cidade. Eu nunca esqueci, eu sonhava tanto em ser cantora, eu não queria saber de dinheiro, na época, quando eu ganhava era R$ 5, mas eu lá queria saber do dinheiro, eu queria era cantar. O show era eu, um senhor que era o tecladista, e outro cantor. Eu era tão tímida, que eu só cantava. Eu morrendo de vergonha com uma sainha branca emprestada, eu nunca esqueci desse dia. O segundo momento, para mim, foi a gravação do DVD no Dique. Foi um momento lindo emocionante, porque além de eu estar à frente, assumindo uma banda tão renomada eu estava também com minha família toda ali pela primeira vez no meu show. Eu pude ver a minha avó lá. Ela não saía de casa para nada, tive meus tios do Rio de Janeiro, de São Paulo, pessoal do interior veio todo. Vovó sempre foi bestinha comigo, ela tinha uma camisa que tinha minha foto de uma das bandas que eu cantei quando eu era do forró, e até os últimos dias dela de vida eu vi minha avó vestida na minha camisa. Então, eu vou seguir trabalhando, eu sei que existem as adversidades, mas eu vou seguir porque não é fácil, não foi de paraquedas que eu cheguei até aqui foi com muito trabalho e eu vou continuar firme.