Pagode domina lista como ritmo mais premiado no título de ‘Música do Carnaval’ nos últimos 15 anos no Troféu Bahia Folia

terça-feira, 18/02/2025 - 09h00

Por Bianca Andrade

Pagode domina lista como ritmo mais premiado no título de ‘Música do Carnaval’ nos últimos 15 anos no Troféu Bahia Folia

Foto: Valter Pontes/ Secom

Na terra do maior Carnaval de rua do mundo, o axé é rei, correto? Mas, entendendo o Axé como um movimento musical, e não como um ritmo, afinal, dentro do Axé se encontram diversos outros gêneros, como o galope, o samba-reggae e por aí vai, um gênero ou a liderar a disputa pelo título de ‘Música do Carnaval’, o pagodão.

A hegemonia de bandas que não tinham o pagode como principal estilo musical acabou em 2010, após anos sendo prioridade na escolha do público em um dos troféus mais disputados da música baiana no início do ano.

Levando em consideração o Troféu Bahia Folia, criado em 1994 pela TV Bahia, e que se tornou referência do Carnaval em Salvador, os artistas “tradicionais” do movimento, como Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Chiclete com Banana, deixaram de ser a principal escolha da população em 2010, quando Léo Santana, ainda no Parangolé, fez história com a canção 'Rebolation'.

Não que o pagode não tenha vencido a disputa em nenhum dos anos anteriores. A primeira canção desse estilo a ganhar o título foi 'Juliana', da banda Bom Balanço, em 1999, uma composição de Pierre Onassis, que também foi o primeiro vencedor do troféu com 'Requebra', do Olodum.

Depois disso, o Psirico de Márcio Victor entrou na seleta lista ao conquistar a Bahia e o Brasil com a música 'Mulher Brasileira (Toda Boa)', em 2008. Mas a partir de 2010, foi aberta a porta para o pagode não só ser uma escolha, como também o protagonista do verão baiano. Além de ter tido o fato histórico com o Parangolé entrando para o Guinness Book ao colocar 100 mil pessoas para dançarem o hit durante o Salvador Fest.

Ao Bahia Notícias no início do ano, o músico Jonga Cunha, curador da exposição ‘A Força Sonora e Visual de um Movimento’, em cartaz até 16 de março de 2025 na Caixa Cultural Salvador, afirmou que o domínio do pagode no Carnaval mostra a pluralidade do Axé.

"É O Tchan, Harmonia do Samba, Bom Balanço, todos esses nomes já ganharam o título de 'Música do Carnaval', tudo isso é samba, vem do samba, do samba duro do Recôncavo, que também faz parte desse guarda-chuva que é o Axé. Já teve ano que o público fez coro para um reggae, 'Nayambing Blues' (cantada por Banda Eva, Sine Calmon e mais artistas), teve festa que o povo cantava Anna Julia, que é um rock e que aqui a gente botou com uns repiques de samba-reggae e misturou tudo. Se a gente perguntar o que é o Axé, ele é a mistura desses diversos ritmos. O afoxé veio antes, teve todo o movimento afro, os ijexás, e cada estilo foi contribuindo para o movimento. É uma riqueza de gênero que eu não posso dizer que o axé é só um ritmo."

De 2010 para 2024, 10 músicas de pagode venceram o título e a movimentação foi tanta que até os “tradicionais” aram a cantar pagode para não ficar de fora.

2010, Rebolation – Parangolé*
2011, Liga da Justiça – LevaNóiz*
2012, Circulou – Banda Eva
2013, Ziriguidum – Filhos de Jorge
2014, Lepo Lepo – Psirico*
2015, Tem Xenhenhem – Psirico*
2016, Paredão Metralhadora – Banda Vingadora
2017, Santinha – Léo Santana*
2018, Elas Gostam – Psirico*
2019, Abaixa que é Tiro – Parangolé*
2020, O Mundo Vai – Ivete Sangalo
2021, Tá Solteira, Mas não Tá Sozinha – Ivete Sangalo e Harmonia do Samba*
2022, Não realizada devido à pandemia de COVID 19 no Brasil
2023, Zona de Perigo – Léo Santana*
2024, Macetando – Ivete Sangalo e Ludmilla*

Neste intervalo em que o pagode confirmou o favoritismo, músicas que não seguiam o estilo apareceram quatro vezes, foram elas: 'Circulou', da Banda Eva em 2012, 'Ziriguidum' da banda Filhos de Jorge em 2013 e 'O Mundo Vai' de Ivete Sangalo em 2020. 'Paredão Metralhadora', da banda A Vingadora, marcou ponto para um estilo que mais se aproxima do arrocha e chegou a ter outros concorrentes na lista, como 'Fui Fiel', de Pablo.

Se for contar na última década e considerar o axé como um ritmo, erro cometido por anos, o “axé” marca apenas um ponto com Ivete Sangalo. Nos anos seguintes, Ivete voltou a marcar como campeã do Troféu Bahia Folia, porém, com músicas de pagode. Foram os anos de 2021 e 2024.

Para Jonga, o abraço ao pagode como Axé e Música do Carnaval fala muito sobre a evolução como um todo. "Não adianta você bater de frente contra o progresso e a evolução. Porque a revolução digital não mudou só a música. Mudou os hábitos também. A revolução digital mudou a vida, não ia mudar a música? Claro que mudou totalmente. É natural", conta ao BN.

Em entrevista à Antena 1 no final de 2024, o cantor e compositor Alexandre Peixe, responsável por sucessos do Carnaval, entre eles ‘Voa Voa’, que ganhou o Troféu Bahia Folia em 2003, afirmou ser necessário um estudo melhor sobre a forma de consumo do público para o fortalecimento do Axé como um todo, no intuito de fazer músicas marcantes, independente do gênero.

"A gente não consegue mais fixar música, 10, 20 anos depois. Se você for perguntar qual foi a música do Carnaval do Brasil, não estou falando só da Bahia não, em 2015 as pessoas não lembram. Será que isso não tem a ver com essa questão da renovação? A forma de construir música por conta desse novo mundo digital ficou muito descartável?", questiona.

Na edição de 2025, 32 músicas concorrem ao Troféu Bahia Folia, que teve os indicados divulgados nesta terça-feira (18). Da lista, 14 são músicas de pagode e a banda que mais aparece é o grupo É O Tchan, com quatro indicações, sendo uma delas solo. Neste ano, quem ficou de fora da disputa foi Bell Marques.

(CLIQUE NAS MÚSICAS PARA OUVIR/ os artistas sem link não disponibilizaram a canção nas plataformas digitais até o momento)

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