Parkinson além do diagnóstico: o que aprendi acompanhando meus pacientes
Todo ano celebramos o Dia Mundial da doença de Parkinson no dia 11 de abril. Para alguns, é apenas mais uma data de campanha de saúde. Mas para quem convive com a doença - seja como paciente, familiar ou profissional de saúde - essa data tem um peso especial. É um lembrete de que a doença de Parkinson não é apenas uma condição neurológica. Ele muda rotinas, desafia famílias e, muitas vezes, transforma totalmente a maneira como a pessoa enxerga a vida.
O Parkinson quase nunca chega fazendo barulho. Os primeiros sinais são sutis: um tremor leve, uma lentidão ao realizar tarefas simples, uma rigidez que vai se instalando, umas quedas sem muita explicação. Em muitos casos, o diagnóstico só acontece anos depois dos primeiros sintomas; o que é um problema, pois quanto mais cedo identificarmos a doença, mais chances temos de controlar sua progressão e preservar a qualidade de vida e independência do paciente.
Se eu pudesse dar um único conselho para quem está começando a lidar com o Parkinson, seria: não pare. Continue se movendo. Caminhe, dance, pedale, nade, respire fundo e mantenha seu corpo ativo. A atividade física é, sem dúvida, um dos pilares mais importantes do tratamento e a única intervenção que mostrou clara redução na progressão da doença.
Com o tempo, claro, é preciso adaptar os exercícios. Nos estágios iniciais, atividades aeróbicas ajudam muito. Quando os desafios aumentam, entram os treinos de força e resistência. Já nas fases mais avançadas é fundamental treinar o equilíbrio e a flexibilidade com práticas como o pilates e a fisioterapia neurofuncional.
Outro ponto que sempre reforço com meus pacientes é o cuidado com a alimentação. Pode parecer clichê, mas devido à constipação característica da doença, garantir funcionamento adequado do intestino é uma diferença enorme na eficácia do tratamento. Atos simples como beber água, comer fibras, e evitar alimentos ultraprocessados auxiliam no bem-estar e garantem uma melhor absorção dos medicamentos pelo intestino.
Falando em medicamentos, eles são, sim, essenciais e obrigatórios. Depois de mais de 50 anos de uso, a levodopa continua a ser o cerne do tratamento e a opção mais eficaz para o controle dos sintomas. Apesar disso, temos uma variedade de agentes antiparkinsonianos que complementam o tratamento, como os agonistas dopaminérgicos, amantadina, inibidores de enzimas que degradam a dopamina, dentre outros.
O que esperar do futuro?
A ciência não para. Todos os dias pesquisas são realizadas pelo mundo com o objetivo de encontrar novas drogas que combatem os sintomas, técnicas cirúrgicas menos invasivas, e soluções que possam, quem sabe um dia, levar à cura. Ainda não chegamos lá. Mas já avançamos muito.
Enquanto isso, seguimos fazendo o que é possível hoje: acompanhando de perto, oferecendo e e buscando o máximo de independência e qualidade de vida possível para quem vive com essa condição.
Se você ou alguém próximo recebeu o diagnóstico de Parkinson, não se desespere. Procure atendimento neurológico, cuide do seu corpo e dos seus hábitos, e lembre-se: não ter cura não quer dizer que não há tratamento, cuidado, e controle dos sintomas.
*Gabriel Xavier é neurologista especialista em Parkinson e distúrbios de movimento e tem Fellowship em Distúrbios do Movimento e Neurologia Cognitiva no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). CRM 26506 l RQE 15169.