Prefeito de Luís Eduardo Magalhães espera chegar a Brasília; em entrevista, gestor lembrou de tratamento de Bolsonaro: ‘nem olhou nos olhos’
O prefeito de Luís Eduardo Magalhães, no Extremo Oeste, Júnior Marabá (PP), faturou a reeleição com 82% dos votos. Com a votação expressiva, Marabá já mira em voos mais altos, como chegar a Brasília e representar a região, que atualmente não conta com nenhum dos 39 congressistas baianos.
Foto: Nayhara Queiróz / Bahia Notícias
Em entrevista ao Bahia Notícias, Marabá falou sobre como conseguiu empilhar 40 mil votos de vantagem para o segundo colocado, discorreu sobre a relação com o governador Jerônimo Rodrigues, com quem diz que tem “ótima relação” e lembrou quando recebeu na cidade dois presidentes da República, Bolsonaro e Lula.
Sobre o ex-mandatário, Marabá não guarda boas lembranças. “Ele [Bolsonaro] nem olhou nos nossos olhos e nem mesmo nos cumprimentou direito, e a equipe dele foi bastante desrespeitosa em vários momentos”, disse.
O senhor teve uma votação expressiva na última eleição, com 82% dos votos válidos. Que arranjo o senhor fez para conseguir essa vantagem?
Isso foi por conta de um trabalho que nós fizemos nos quatro anos anteriores, solucionando problemas que a cidade tinha por mais de 20 anos. Então, durante todos os processos eleitorais se prometia construir um hospital, se prometia fechar um lixão a céu aberto, entregar saneamento básico, pavimentação, uma transformação na educação e vários outros. Eu me comprometi com a população que ia fazer em quatro anos o que eles não haviam feito em 20 e isso me consolidou para uma reeleição como a que eu tive.
Mas esse resultado não teve também um jeito de lidar com opositores, de se aproximar de quem não estava no seu campo político?
Na verdade, não é só gestão. Tem que ter política também. Eu costumo dizer que não existe política sem servidão e não existe gestão também sem política. As duas coisas têm que caminhar juntas. E nós conseguimos construir um grupo político muito forte na nossa cidade. Conseguimos agregar muitas lideranças e hoje eu posso dizer que Luís Eduardo Magalhães tem apenas um grupo político que é o grupo político de Júnior Marabá. E hoje só tem o nosso grupo por quê? Porque nós fizemos essa construção, nós não somos de perseguir adversário. Isso fluiu muito bem tanto é que dos 17 vereadores, nós fizemos 14.
Apesar de ser de um campo político diferente, o senhor tem feito parcerias com o governo do estado, uma delas foi o hospital do município. Como se deu isso?
Eu só consegui abrir o hospital por conta do governador Jerônimo. Minha relação com ele é ótima. Eu tenho hoje na pessoa do governador alguém que eu possa contar como prefeito. Todas as vezes que eu tive necessidade de discutir com o estado, eu sempre fui recebido por Adolfo Loyola [secretário de relações institucionais] e tive o andamento das tratativas. No hospital mesmo, eu não tinha equipamento para colocar para funcionar e foi o governador que conseguiu entregar esses equipamentos. E agora o objetivo é colocar para funcionar uma UTI neste hospital, na qual a gente vai regular junto com o estado para atender a região. Pretendo fazer isso ainda neste primeiro semestre.
Então para o senhor não existe entrave partidário? Só para lembrar, o senhor apoiou ACM Neto na última eleição para governador.
Eu não tive com ele [Jerônimo] no processo eleitoral. Sem dúvida sou de um município que tem uma direita e que é mais conservador. Eu tenho um posicionamento político mais de centro-direita. Entretanto, eu tenho que ser muito justo com quem está estendendo a mão para o meu município. O meu principal papel é com as demandas e necessidades do município que represento.
Essa aproximação com o governador lhe trouxe algum tipo de problema com a base de direita da cidade, principalmente com essa direita extremista?
Não porque eu sempre fui muito direto e sincero na minha conduta. Eu sempre fui assim. No momento do pleito, eu visto a identidade do município, a identidade do nosso grupo político. Não me vejo fazendo campanha de oposição ao governador e não tem porque fazer campanha de oposição ao governador. Sempre fui muito sincero com a população. Por mais que Luís Eduardo Magalhães seja uma cidade mais de direita e conservadora, eu nunca estive apoiando o presidente Bolsonaro no primeiro turno. Apenas estive com ele no segundo turno porque não me sentia representado.
O senhor parece que não teve uma experiência agradável com o ex-presidente Bolsonaro durante agem dele na cidade, não foi?
Na verdade, eu como prefeito recebi dois presidentes, né? [sic] Primeiro, eu recebi o Bolsonaro e depois eu recebi o Lula. Com Bolsonaro, a gente teve por parte da equipe dele falta de bom trato, de respeito conosco. Fui empurrado pela própria equipe dele, e ele nem olhou nos nossos olhos e nem mesmo nos cumprimentou direito. A equipe em si foi bastante desrespeitosa em vários momentos. Já no ano seguinte, com a vinda do presidente Lula, ele foi muito educado, muito gentil, conversou comigo sobre o Luís Eduardo Guimarães, a equipe dele também foi muito educada.
Foto: Nayhara Queiróz / Bahia Notícias
Quais são as suas grandes metas para este ano e consequentemente para o final deste segundo mandato?
Hoje, Luís Eduardo Magalhães é a quinta economia do estado. É a cidade que mais cresce na Bahia e cada dia se consolida mais. Tem uma tendência de crescimento muito grande e a gente tem que preparar o município para isso. Eu tenho uma cidade que faltava muitas necessidades básicas, e ei os primeiros quatro anos corrigindo essas necessidades, de saneamento básico, pavimentação, mobilidade urbana. Nesta nova etapa, eu quero fazer revitalização de bairros. Revitalizar as vias urbanas, fazer áreas verdes e praças. Na educação, depois de combater a fome e desigualdade e oferecer um kit uniforme, mochila e material escolar, a gente quer avançar no ensino, com módulos de português e matemática e oferecer educação financeira.
Essa questão da desigualdade deve ser bem gritante em Luís Eduardo Magalhães, já que a cidade é conhecida pelas grandes fazendas e produções, embora a população não tenha um padrão financeiro alto.
Luís Eduardo é uma cidade rica, mas o meu sonho é que essa riqueza possa ser compartilhada e dividida entre as pessoas. Porque, você vê uma disparidade social muito grande e uma divisão. Tudo que eu fiz foi para unir a cidade em uma coisa só, dando oportunidade de vida e melhoria para as pessoas e diminuir a dificuldade e a dor delas. Você não consegue de fato retirar toda dor e dificuldade, mas você consegue diminuir. No programa Meu Lar, a gente entrega reforma de casa, principalmente para mães solteiras. Às vezes são casas que não tem banheiro, que não tem um reboco batido, a gente vai e reforma essa casa. Além disso, entregamos duas mil cestas básicas por mês e sempre reavaliamos o cadastro para entregar para quem precisa. Outra coisa, lá em Luís Eduardo Magalhães não tem camarote em evento público.
Isso tem sido uma praga em diversas cidades.
Em todos eventos, não tem camarote da prefeitura. No arraiá da cidade, em uma noite que teve 60 mil pessoas, o cara que anda de jato ou o cara que anda de bicicleta dividiu o mesmo espaço. Eu criei essa política pública em relação aos nossos eventos e enquanto tiver recurso público eu não vou permitir camarote, vendendo ingresso.
O senhor tem outras pretensões políticas para depois de encerrar o mandato de prefeito? Ser deputado estadual ou federal, por exemplo?
Meu desejo é construir uma representatividade significativa na região Oeste. Nós temos 39 deputados federais, e o Oeste, falando especificamente da Bacia do Rio Grande, não tem nenhum deputado federal, mesmo sendo uma região promissora com destaque econômico e social na Bahia. Então quero construir um projeto para linkar esses municípios e termos um representante da região no plano nacional. Agora, lógico que isso depende de uma construção.