Moraes se irrita com ex-comandante do Exército em 1º dia de depoimentos da trama golpista: “Antes de responder, pense bem”
Por Redação
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, se irritou com o depoimento do ex-comandante do Exército Freire Gomes durante o primeiro dia de explanação das testemunhas de defesa e acusação do processo da trama golpista, nesta segunda-feira (19).
Segundo o jornal O Globo, na ocasião, o ministro, que é relator do processo, interrompeu a fala de Freire Gomes, quando o general comentava o papel do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santo.
“Quero advertir a testemunha, ela não pode omitir o que sabe. Vou dar à testemunha a chance de dizer a verdade, não pode agora perante o STF falar que não lembra, que talvez, que 'eu estava focado só no que pensava'. A testemunha é general do Exército, foi comandante do Exército, consequentemente está preparado para lidar sob tensão, tanto no interrogatório da polícia quanto aqui”, disse Moraes.
A advertência de Moraes se deu após o ex-comandante mudar o depoimento dado a Polícia Federal e a ação penal em curso. Freire Gomes respondia a um questionamento do procurador-geral da República, Paulo Gonet, se Garnier havia se colocado “à disposição para implantar essas medidas”, em referência ao plano golpista de Bolsonaro.
“Tivemos diversas reuniões. Obviamente que cada um expressava sua opinião quando solicitado pelo presidente", começou Freire Gomes. "Acredito que o senhor se refere a essa conversa em que expus pra ele a importância de avaliar todas as condicionantes, inclusive o dia seguinte da tomada de uma decisão que fosse, estava focado na minha lealdade de ser franco ao presidente sobre o que pensávamos. Baptista Junior foi contrário a qualquer coisa naquele momento. O que o ministro da Defesa fez foi ficar calado, e o almirante Garnier apenas demonstrou um respeito ao comandante em chefe das Forças Armadas e não tinha opinião naquele momento.”
Com as imagens do depoimento do general à Polícia Federal sendo exibidas na tela da videoconferência, Moraes advertiu Freire Gomes do artigo 342 do Código Penal, que prevê pena de três a oito anos de prisão para o crime de falso testemunho.
“Solicito que antes de responder, pense bem. Vossa Senhoria disse à Polícia Federal que o depoente (o próprio comandante) e o brigadeiro Baptista Junior falaram de forma contundente ao conteúdo exposto (da tentativa de golpe), que não teria e jurídico para tomar qualquer atitude, que o almirante Garnier (ex-comandante da Marinha) teria se colocado à disposição do presidente da República. Ou o senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando a verdade aqui.”
Após a intervenção do ministro, Gonet insistiu no questionamento a Freire Gomes se Garnier havia se colocado à disposição dos planos golpistas de Bolsonaro.
“Com 50 anos de Exército jamais mentiria. Eu e o brigadeiro Baptista Junior nos colocamos contrário ao assunto, e que eu estava focado no que eu falei, não me recordo efetivamente da posição do ministro da Defesa, e o almirante Garnier ficou com essa postura de ficar com o presidente. Eu não posso inferir o que ele quis dizer com o estar com o presidente Eu não omiti dado. E afirmo: ele disse que estava com o presidente, a intenção do que ele quis dizer com isso não me cabe.”
A audiência não está sendo transmitida nem pela TV Justiça nem pelo YouTube. Nesta segunda-feira, já foram ouvidos Clebson Ferreira de Paula Vieira, ex-integrante do Ministério da Justiça, Adiel Pereira Alcântara, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, e Éder Lindsay Magalhães Balbino, responsável por empresa contratada pelo PL para fiscalizar as eleições.